268: Para quando robustecer o sistema de inovação?

 

🇵🇹 OPINIÃO

Embora em Portugal a comunicação social não o tenha evidenciado, a edição 2023 do European Innovation Scoreboard, divulgada há uns dias, mostra que a maioria dos Estados-membros da União Europeia (UE) continua a melhorar o seu desempenho em inovação mas que países com sistemas de inovação mais frágeis, como é o caso de Portugal, ficaram aquém da média da UE.

O European Innovation Scoreboard é uma referência central na análise do desempenho da inovação nos países da UE, facultando quer uma avaliação comparativa do desempenho quer uma avaliação vasta dos pontos fortes e fracos da inovação nacional dos diversos países.

Deste modo, este ranking europeu – que serve de guia para a concepção de políticas que reforcem a inovação em toda a Europa – vai destacando os progressos no desempenho da inovação nos diversos países, na linha do compromisso europeu em fortalecer uma cultura de inovação.

O European Innovation Scoreboard agrupa os Estados-Membros em quatro grupos de desempenho: os líderes em inovação (com um desempenho superior a 125% da média da UE); os inovadores fortes (com desempenho entre 100% e 125% da média da UE); os inovadores moderados (entre 70% e 100 % da média da UE); e os inovadores emergentes (abaixo de 70% da média da UE).

Em comparação com a edição do ano passado, a distribuição dos Estados-membros pelos grupos de desempenho manteve-se estável e o grupo dos líderes em inovação integra a Dinamarca, a Suécia, a Finlândia, a Holanda e a Bélgica.

Já a Áustria, a Alemanha, o Luxemburgo, a Irlanda, o Chipre e a França são considerados países “fortes inovadores”, com desempenho acima da média da UE e, no grupo abaixo, a Estónia, a Eslovénia, a República Checa, a Itália, a Espanha, Malta, Portugal, a Lituânia, a Grécia e agora também a Hungria integram o grupo dos inovadores moderados; por fim, a Croácia, a Eslováquia, a Polónia, a Letónia, a Bulgária e a Roménia incluem-se no grupo dos países “inovadores emergentes”.

Em 2021, pela primeira vez desde 2014, a economia portuguesa caiu neste ranking europeu da 12.ª posição para a 19.ª posição.

Ou seja, em 2021, o nosso país deixou de ser considerado “fortemente inovador” passando a “moderadamente inovador”. Em 2022 manteve-se “inovador moderado”, recuperando duas posições mas, ainda assim, ficando no 17.º lugar.

Ora, num país onde os sectores económicos que mais criam riqueza estão associados a salários baixos e a alguma precariedade, urge responder aos diversos problemas do nosso modelo de desenvolvimento económico, assim como aos diversos desajustamentos do mercado de trabalho.

Designadamente, a elevada precariedade laboral junto nos jovens, tem significativa influência na decisão de sair do país, uma vez que têm um grau de imprevisibilidade no seu futuro que os força a viver em permanente stress financeiro, comprometendo a estabilidade pessoal e familiar.

Assim, importa, particularmente, travar esta vaga de saída massiva de profissionais qualificados do país e reter estes profissionais em sectores onde a inovação esteja focada na transformação da economia por via da incorporação do conhecimento nas empresas, aspecto central para a competitividade do país, uma vez que só uma economia baseada na inovação garantirá essa competitividade.

A prioridade à inovação deve passar pela implementação e dinamização de actividades em áreas estratégicas que visem potenciar a base de conhecimento existente no país e impulsionar iniciativas inovadoras, apoiando projectos de investimento que contribuam para a transformação digital de empresas, bem como projectos de investigação industrial e de inovação organizacional.

Enquanto não houver uma mudança das políticas públicas nesta matéria, a situação só se agravará, prosseguindo a emigração dos nossos profissionais mais qualificados e, assim, comprometendo a capacidade de inovação do país.

Professora universitária e investigadora

DN
Glória Rebelo
21 Julho 2023 — 00:25



Web-designer, Investigator, Astronomer
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published in: 2 meses ago

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257: Prevenção de incêndios e centrais de biomassa

 

🇵🇹 OPINIÃO

Como é sabido, em Portugal o problema dos incêndios está muito relacionado com razões demográficas assim como com as assimetrias territoriais do país e a concentração da população no litoral do país. Desde logo, porque é no interior do País mais despovoado que ocorrem a maioria dos incêndios.

O interior do nosso país, despovoado e envelhecido, carece de iniciativas que, a diversos níveis, o revitalizem, sendo necessário repovoar e redinamizar os territórios de baixa densidade, não só em prol da coesão territorial mas também da prevenção de incêndios.

Assim, no início da época crítica de incêndios, cabe indagar das medidas implementadas pelo Governo que dão resposta directa preventiva a este problema, nomeadamente, o reforço do modelo de sapadores florestais e o incentivo do uso de biomassa florestal, especialmente proveniente de resíduos resultantes da limpeza e desmatação de terrenos.

Tanto mais que, neste particular, emerge nalgum discurso político a demagogia da culpabilização dos pequenos proprietários florestais e agrícolas, que procuram manter as suas propriedades à custa de enormes sacrifícios, uma vez que delas retiram escassos ou nenhuns rendimentos.

Como é sabido, há uma enorme dificuldade por parte destes proprietários para fazer face às inúmeras despesas e impostos sobre essas propriedades.

Pelo que caberá ao Estado responder a este problema, criando e disponibilizando a estes proprietários um conjunto de apoios fiscais e de serviços que asseverem a prevenção estrutural dos incêndios, sendo prioritário implementar soluções rentáveis que defendam o ambiente, especialmente priorizando a gestão da matéria combustível.

Ora, considerando que o sector da energia é, e será, um dos sectores económicos mais dinâmicos desta década, quer pelas oportunidades de negócio quer pela criação de emprego, o relançamento socioeconómico do país não pode deixar de passar pela promoção estratégica das energias renováveis.

A implementação da Agenda 2030 para promover o bem-estar de todos e proteger o ambiente passa por áreas como a sustentabilidade energética e ambiental.

Como se sabe, a energia é para o nosso país um elemento vital para o desenvolvimento sustentável, cabendo apostar no potencial das energias renováveis.

No âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) em execução caberá garantir um conjunto de investimentos destinados a assegurar esse desenvolvimento sustentado para o país e enfrentar, especialmente, estes problemas do interior do país.

Na implementação do PRR, estas iniciativas estão associadas ao desenvolvimento de acções coordenadas para os desafios comuns associados aos domínios do reforço da resiliência energética em torno do processo de transição energética e do desenvolvimento do uso de energias renováveis, do conjunto de incentivos à produção e armazenamento de energia a partir de fontes renováveis, assim com à aquisição e instalação de sistemas de armazenamento de energia a partir de fontes renováveis, assim como do “One-Stop-Shop” para o licenciamento e monitorização de projectos de energias renováveis.

Daí que a acção do IAPMEI seja crucial ao nível da promoção da transformação estrutural da economia portuguesa no sentido da transição verde, de acordo com as metas definidas no Plano Nacional Energia e Clima 2021-2030, assim como para concretizar o objectivo de investir e desenvolver a capacidade produtiva nacional de energias renováveis, em linha com as metas do PNEC 2030 e com os objectivos do Plano Industrial do Pacto Ecológico Europeu, reforçando a capacidade de produção de tecnologias direccionadas para as áreas da energia renovável e da eficiência energética.

Deste modo, urge incentivar a actividade de centrais de biomassa florestal que permitam consumir massa lenhosa da floresta, reduzindo a matéria combustível dos terrenos e facultando aos pequenos proprietários algum rendimento e, simultaneamente, reflorestar o território considerando, designadamente, as diversas espécies de Quercus (em especial os carvalhos) e de castanheiros, mais resistentes ao fogo e próprios de uma floresta natural e espontânea.

Professora universitária e investigadora

DN
Glória Rebelo
16 Julho 2023 — 00:30



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132: Trabalho digno e emprego criado em Portugal – que respostas?

 

🇵🇹 OPINIÃO

De acordo com os recentes dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos ao 1.º trimestre de 2023, a taxa de emprego situou-se em 56,4%, mantendo-se inalterada em relação ao 1.º e ao 4.º trimestres de 2022.

Revela ainda o INE que para a variação homóloga da população empregada contribuíram, principalmente, os acréscimos nos seguintes agregados: mulheres (0,8%); pessoas dos 16 aos 24 anos (18,6%); que completaram, no máximo, o 3.º ciclo do ensino básico (3,8%) ou o ensino secundário ou pós-secundário (4,3%); trabalhadores com contrato com termo (7,7%); e a tempo parcial (6,5%).

Acresce que o subemprego de trabalhadores a tempo parcial abrangeu 156 mil pessoas, o que corresponde a um aumento de 10,6% em relação ao trimestre anterior e a um aumento homólogo de 8,3%.

Ora, na prossecução dos “Objectivos Nacionais para 2030”, em que estabelece uma estratégia em Portugal para a próxima década ao nível da concretização de políticas públicas, nomeadamente, proteger o emprego e fazer da próxima década um período de convergência de Portugal com a União Europeia, assegurando maior coesão social, estes recentes dados do INE não podem deixar de inquietar.

Tanto mais que o principal propósito da Estratégia Portugal 2030 – enquadrando os 5 objectivos estratégicos para o período “2021-2027” definidos pela União Europeia e que serão as prioridades do “Portugal 2030” – será assegurar que os fundos europeus devem ajudar a criar um “Portugal + Social”, designadamente, “apoiando a melhoria das qualificações da população” e “promovendo o emprego de qualidade”, seguindo as prioridades estabelecidas no Pilar Europeu dos Direitos Sociais.

Como é sabido, para promover verdadeiramente trabalho digno em Portugal, o Governo deve saber responder a este preocupante aumento do recurso ao trabalho a termo.

A verdade é que, o elevado e persistente nível de contratos a termo (e de trabalho temporário) em Portugal, que se regista desde a década de 1990, tem tido resultados muito nefastos especialmente junto dos jovens, com diversas consequências sociais, designadamente demográficas, quer fazendo recuar a natalidade (dada a instabilidade profissional e o aumento do número de trabalhadores com salários com valores perto do salário mínimo nacional) quer forçando o flagelo da emigração anual de milhares de portugueses.

De acordo com o Censos de 2021, “residiam em Portugal, em Abril de 2021, cerca de 10 milhões e trezentas mil pessoas, o que representa um decréscimo de 2,1% face a 2011”.

Salienta o INE que “Portugal apenas tinha registado uma redução do seu efectivo populacional nos Censos de 1970, em resultado da elevada emigração verificada na década de 1960”.

Os dados do Censos revelam ainda que, entre 2011 e 2021, em todos os escalões etários até aos 39 anos, se assistiu a um decréscimo da população, com particular incidência no grupo dos 30 aos 39 anos.

Ora, se Portugal perde sobretudo estes jovens com idades dos 30 aos 39 anos, será premente encontrar respostas para travar esta onda de emigração, retendo os nossos melhores profissionais.

Assim, não podemos abdicar do propósito de assegurar trabalho digno e boas condições de trabalho às pessoas em Portugal, cabendo promover intervenções legislativas bem ponderadas, acompanhadas igualmente pela preocupação em assegurar um são equilíbrio entre os interesses empresariais e os interesses dos trabalhadores.

Professora universitária e investigadora

D.N.
Glória Rebelo
31 Maio 2023 — 00:52


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e Criador de Conteúdos Digitais


published in: 4 meses ago

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