375: Má aposta no país do esquecimento

 

– Não possuo nem nutro qualquer simpatia por esta governança, pela anterior ou por todas as outras anteriores (ainda menos). Por uma razão muito simples e que se resume apenas nesta análise: os políticos da governança, sejam eles quais forem, tenham eles a cor que tiverem, não governam para o país, para a melhoria de condições de vida dos portugueses, para o desenvolvimento social e económico de Portugal. Mas reconheço que o presidente da República (MRS) e toda a oposição que lhe é afecta (PPD), jornalixo – e não só -, pretendem derrubar esta governança porque ela é pretensamente de esquerda – que não é – e mesmo mal, vai andando conforme a competência de todos os ministros escolhidos. Basta ler a verborreia dos políticos da oposição, opinadores, comentadeiros de vão-de-escada, nomeadamente do PPD, CDS & afins, para chegar a esta conclusão. E nem é preciso ser-se analista político encartado! Bota abaixo com fartura… soluções, nenhumas, falácias até dizer chega!

🇵🇹 OPINIÃO

Uma grande diferença entre memória curta e memória de elefante não é o que se esquece ou é lembrado, mas sim, de certa forma, a oportunidade de quem é esquecido.

Galamba não ficou incomodado por Marcelo levar a gestão da TAP ao Conselho de Estado, porque imaginava que há informação que geralmente é limitada no tempo, desaparece num minuto, ou passado uns dias, ou no meio de uma silly season.

No calor do acontecimento, muita coisa se afigura diferente do que será dali a uns dias. É verdade que ninguém supunha que o Conselho de Estado se fizesse em duas partes, atravessado por umas férias de verão entre 21 de Julho e 5 de Setembro, mas adivinhava-se que a passagem do tempo traria novos acontecimentos e depressa se percebeu que a tensão entre Belém e S. Bento, desde o caso Galamba, haveria de ter novos episódios e divergências políticas.

Ainda assim, o Presidente não deixou cair a polémica à volta da TAP, falou criticamente do novo aeroporto e da privatização da companhia aérea.

Costa ficou em silêncio. E Marcelo voltou ao ataque na habitação, como de resto aconteceu, desde que vetou o pacote Mais Habitação, que deixou o primeiro-ministro debaixo de fogo vindo da Direita, como da Esquerda, e de vários quadrantes da sociedade, por causa de uma solução que insiste em avançar.

Costa ficou em silêncio nas críticas à Saúde. Outro dos temas quentes, com a falta de médicos, as sucessivas greves, o fecho de Urgências e um ministro da Saúde contestado pela degradação do Serviço Nacional de Saúde.

Já se esperava, de resto, que fossem estes os alvos das críticas do Presidente da República sobre a situação política, económica e social do País, numa altura em que os analistas realçam a discrepância entre a melhoria dos números económicos e as famílias, que não sentem qualquer melhoria no bolso.

Pelo contrário, a subida dos juros, a inflação que persiste e a menor capacidade de endividamento estão a tornar-se cada vez mais pesadas. Mário Centeno já alertou que, no final do ano, “cerca de 70 mil famílias poderão vir a ter despesas com o serviço do crédito à habitação permanente superiores a 50% do seu rendimento líquido”.

No fundo, o comunicado lacónico da Presidência da República, onde se lê apenas que “foi concluída a análise”, já foi antecedido por muitas análises e muitos recados de Marcelo.

Costa ficou calado no Conselho de Estado, mas horas antes desdramatizou o que lá pudesse ser dito. Disse que “a função de um primeiro-ministro não é ser comentador, mas ser fazedor, é fazer”. Há é uma grande diferença entre fazer e resolver. A aposta de um governante não pode ser no país do esquecimento.

Subdirector do Diário de Notícias

DN
Bruno Contreiras Mateus
06 Setembro 2023 — 00:02


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



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353: Salário mínimo não chega para as contas reais

 

– Que dizer então dos miseráveis valores inferiores ao salário mínimo nacional, recebido pelos pensionistas? Já nem mencionando os desempregados de longa duração sem qualquer apoio social? Isso não conta para os “economistas” propagandistas do costume? Vibrava vê-los receberem € 650,00 ou menos, a terem de pagar rendas de casa de mais de 80% do rendimento – e não, não são casas em condomínios privados -, mais electricidade, água, gás, alimentação, farmácia, saúde, passe social de transportes, etc.!!! Seria um fartote vê-los a ganir por todos os lados!

🇵🇹 OPINIÃO

O número de trabalhadores por conta de outrem que recebem o salário mínimo nacional (SMN) desceu, no segundo trimestre, para o valor homólogo mais baixo desde o início da governação de Costa.

Comparando apenas 2022 com 2023, são menos 98 mil trabalhadores a auferirem o SMN. Hoje, a diferença entre homens e mulheres é de apenas cerca de cinco mil, o que a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, enaltece ao DN.

Acontece que, num período mais recente, saídos da pandemia, com a recuperação do turismo e do comércio, dada a escassez de mão de obra e a inflação a comer praticamente o valor real do aumento do SMN, conforme aponta o especialista em Economia do Trabalho, João Cerejeira, “as empresas sentiram-se pressionadas a aumentar mais os salários”.

Entre 2006 e 2023, os aumentos sucessivos do SMN geraram uma subida do poder de compra acumulado de 43%, enquanto o salário real médio nacional se ficou por um crescimento de apenas 4,2%, nota o economista João César das Neves no mais recente livro, escrito em conjunto com Luís Valadares Tavares, Portugal: porquê o país do salário abaixo de mil euros?, da D. Quixote. “Para o Governo é excelente, porque parece que melhora a situação dos trabalhadores sem gastar um cêntimo.

Quem paga o salário mínimo são as empresas, não o Estado, que, no entanto, fica com os louros políticos. Por outro lado, a medida beneficia evidentemente todos os trabalhadores que, no fundo da escala, mantêm o emprego”, explica.

Estando a evolução dos salários estritamente ligada à evolução da economia, é inegável a sua enorme dependência da produtividade do trabalho, em que o nosso desempenho é mau, nota César das Neves: “Ora, o que é especialmente grave é o desafio da produtividade estar ausente da agenda nacional, pois é tema que não surge no quotidiano nacional!” – dispara.

O problema é estrutural e as medidas governativas devem ser consequentes. Senão, continuaremos a assistir ao fenómeno da emigração de jovens talentos que procuram melhores condições lá fora.

Continuaremos a assistir a greves e manifestações dos médicos, que apontam para fragilidades gritantes do Serviço Nacional de Saúde. Vemos os professores em luta pela recuperação da carreira.

E vemos tudo isto a acontecer há demasiado tempo. A subida do salário mínimo não deixa de ser boa, não se pode é nivelar um país por baixo, com o valor dos salários médios reais ainda muito abaixo daquilo que é o custo real de vida dos portugueses. O País tem de nivelar por cima!

Subdirector do Diário de Notícias

DN
Bruno Contreiras Mateus
25 Agosto 2023 — 00:02


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
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350: A Lua ainda tem sabor a liberdade

 

🇵🇹 OPINIÃO

Está entre as capas mais emblemáticas do Diário de Notícias, na sua extensa existência de 158 anos. A manchete Os homens na Lua. O século XXI começou hoje, já no próprio dia da publicação, a 21 de Julho de 1969, antevia um outro alcance, para lá do relato de um passo gigante como o da chegada do Homem à Lua, dos mais importantes marcos da História da Humanidade, que é a importância histórica do jornalismo na construção da memória colectiva.

É por isso preciso preservar os arquivos e abri-los ao leitor (nunca é demais lembrar que desde 21 de Junho de 2021 o DN publica diariamente este legado nas páginas Aconteceu em e que a 14 de Julho de 2022 o seu arquivo foi declarado Tesouro Nacional).

No interior desta edição histórica, numa das suas oito páginas, o título Uma noite branca para a maior parte dos europeus. A América adormeceu a sonhar com a Lua, feliz da espantosa proeza dá lugar à prosa: “Era alta madrugada na Europa (cerca das 4 horas em Lisboa) quando a televisão ofereceu ao mundo as imagens dos primeiros passos do homem na Lua.

Durante toda a noite, os olhos ávidos dos espectadores fixaram o pequeno ecrã donde lhes viria a maior proeza humana em todos os tempos.

Em férias estivais ou no descanso do trabalho diário, quase todos sacrificaram uma noite de repouso para estarem “presentes” no momento que marca o matemático dealbar de um novo século e de uma nova era.”

Assim se inicia a descrição de como o nosso País viveu este acontecimento histórico, registando-o para o futuro.

© Arquivos DN

Ontem a Índia fez história. E assim se reaviva também aquele que foi o maior avanço na corrida espacial, que teve o seu início no final dos anos 1950, durante a Guerra Fria, como parte da disputa entre a América e a União Soviética pela hegemonia mundial. Hoje é diferente. O dinheiro comanda as missões.

E a Índia, ao tornar-se no primeiro país a pousar na Lua perto do Polo Sul a sonda Chandrayaan-3 – feito este que os russos falharam no domingo quando a Luna-25 se despenhou na superfície lunar -, ficará perto de consolidar, principalmente perante o triângulo EUA, Rússia e China, a sua posição como potência espacial, com tecnologia com custos competitivos. Como já se viu ao longo dos anos, pousar na Lua não é fácil.

À Reuters, Bethany Ehlmann, professora do Instituto de Tecnologia da Califórnia, resume o desafio: “Nos últimos anos, a Lua parece estar a comer naves espaciais.”

A 21 de Julho de 1969, Almada Negreiros dizia ao DN, num dos artigos a propósito da chegada do homem à Lua: “Este espectáculo inédito tem o sabor da liberdade.”

Subdirector do Diário de Notícias

DN
Bruno Contreiras Mateus
24 Agosto 2023 — 00:02


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346: Do T1 em Lisboa a 550 euros ao quarto por 506

 

– O problema habitacional, no actual contexto social, é um autêntico escândalo e um ataque a todos aqueles que têm baixos rendimentos e/ou estão desempregados (de curta ou longa duração) e, com alguma sorte, a estarem a ser apoiados por familiares para a sua sobrevivência. Todos os políticos, tenham eles a cor que tiverem, a começar no presidente da República, não possuem a mínima noção do que é tentar (sobre)viver nesta selva social em que Portugal se tornou. Desemprego, baixos salários, miseráveis pensões de reforma, despesas acrescidas, são o pão nosso de cada dia. Mas sentados nas suas poltronas a rabiscarem uns decretos, umas normas, sem qualquer noção do que se passa no terreno – ou fingem ignorar, o que é ainda mais grave -, lá vão andando cantando e rindo, em passeatas ao estrangeiro, em almoçaradas, banquetes, recepções e afins.

🇵🇹 OPINIÃO

Não foi assim há tanto tempo que em Lisboa se arrendava um T1 central por 550 euros. Era possível até 2015, quando o valor do salário médio bruto em Portugal rondava o dobro, precisamente.

Só que o cenário mudou de forma tão dramática que hoje nos damos conta de que a capital portuguesa foi a mais cara da Europa para arrendar casa no segundo trimestre deste ano, a avaliar pelo índice internacional Housing Anywhere.

O mesmo T1 já custava em média 2.500 euros mensais nos novos contratos, num mercado tão caro e com imensa procura e muito pouca oferta. E mais, já é proibitivo arrendar apenas um quarto.

Custa 506 euros em média, com base nos anúncios publicados no portal imobiliário Idealista. O salário médio, esse, só cresceu 300 euros nestes últimos oito anos.

Não chegarão a este nível, com certeza, os rendimentos da maioria dos que procuram quarto para arrendar, atendendo ao salário mínimo nacional. Num mercado em que a oferta cresceu 146% no último ano em Lisboa – e que se impõe saber até onde a fiscalização está a actuar -, competem por partilhar casa com estranhos, solteiros, divorciados e jovens deslocados em início de carreira. Muitos destes, com ordenados baixos, em estágios ou precários.

E em Setembro volta o drama das famílias dos estudantes universitários, os novos e os que prosseguem estudos: todos os anos se repete a procura por um quarto, à parte do custo da alimentação, de muitas despesas da casa, do material escolar e dos imponderáveis.

Tudo isto somado já custa um salário só para ter um filho a estudar longe da casa dos pais. Muitos desistem antes mesmo de concluírem o curso, outros, no limite, percorrem largas dezenas de quilómetros diariamente só porque sai mais barato.

No caso de quem procura trabalho, muitos recusam propostas por não conseguirem suportar o custo de vida. Não é por opção, são obrigados. Em Lisboa arrendar quarto está 23% mais caro do que em Julho de 2019.

Mas há exemplos de subidas maiores. Aveiro foi onde os preços mais aumentaram (50%) e no Porto o acréscimo é de 30%.

Não há salários que acompanhem variações destas no custo da habitação, por um quarto apenas, por casa arrendada ou comprada. Não se governa de costas voltadas para os problemas, sem compromisso por uma resolução célere, consensual e efectiva.

António Costa não foi surpreendido agora pelo flagelo na habitação, desde que em 2015 assumiu funções a evolução tem sido galopante. E o custo social está à vista. Veremos quando será travado.

Sub-director do Diário de Notícias

DN
Bruno Contreiras Mateus
23 Agosto 2023 — 00:07


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
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published in: 1 mês ago

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