🇵🇹 OPINIÃO
As madrastas e padrastos são uma realidade incontornável na vida de muitas crianças, após um processo de separação ou divórcio parental prévio.
Muitos pais iniciam novas relações e as crianças passam a integrar as chamadas famílias recompostas, sobre as quais existem ainda numerosos mitos. Um deles é o Mito dos Segundos Pais.
Definimos família recomposta como uma família com dois adultos numa união, formal ou informal, em que pelo menos um deles tem crianças fruto de uma ou mais relações prévias, que podem ser menores ou maiores de idade.
Podem ainda existir filhos da relação actual. As crianças podem residir a tempo inteiro ou parcial, ou podem não manter qualquer contacto à data actual.
As famílias recompostas não são iguais às famílias nucleares, mas também não devem ser entendidas como piores ou inferiores. São apenas diferentes.
As famílias recompostas são necessariamente mais complexas e os papéis são mais ambíguos, ao mesmo tempo que carecem ainda de uma memória colectiva que apenas poderá ser alcançada com o passar do tempo. Nestas famílias, cada um dos elementos traz consigo uma bagagem que pode ser muito pesada e que não deve ser ignorada.
E é preciso tempo, paciência e muito investimento afectivo para que todas as bagagens sejam devidamente integradas, dando espaço para a partilha de afectos e para a construção de uma história familiar comum.
Quando iniciam uma relação com as crianças, as madrastas e padrastos devem focar-se no estabelecimento de uma relação afectiva e só depois, numa outra fase, começar a definir regras e limites.
É fundamental apostar na criação destes laços de afecto para que as crianças lhes reconheçam, depois, legitimidade para o exercício da autoridade e da disciplina.
Sobre estas famílias existem ainda muitos mitos, ou seja, crenças falsas e ideias erradas que tendem a conduzir a expectativas irrealistas que, na maior partes das vezes, são frustradas, potenciando emoções mais desagradáveis.
Um dos mitos relaciona-se com o facto de se acreditar que as madrastas podem ser segundas mães e os padrastos podem ser segundos pais.
Ora, os pais são insubstituíveis, ainda que tenham, porventura, falecido, ou que mantenham com a criança uma relação mais distante. É importante definir e clarificar os diferentes papéis, para que não se confundam.
Sabemos que os termos “madrasta” e “padrasto” estão carregados de conotações negativas, muito por culpa da Cinderela e afins.
Em muitos contos infantis, as madrastas e padrastos surgem como pessoas malvadas, invejosas e ciumentas, que maltratam os enteados – algo que não corresponde à realidade, na medida em que não se verificam mais situações de maus-tratos, negligência ou abuso sexual nas famílias recompostas do que nas famílias nucleares.
Os adultos podem, então, em conjunto com a criança, procurar termos alternativos que sejam sentidos como mais acolhedores e afectuosos. Desde que não sejam “mãe” ou “pai”.
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal
DN
Rute Agulhas
14 Setembro 2023 — 00:14
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 2 semanas ago