– “… Em Portugal, muitas famílias estão em sobrecarga, gastando mais de 40% do rendimento na habitação e isto não acontece em nenhum país com que o governo insultuosamente nos quer comparar.” “… Pessoas que vivem com mais mês que dinheiro merecem mais respeito de quem as governa ou preside aos destinos do país.”
Gastar 40% do rendimento na habitação, para mim, seria um paraíso! Vivendo em casa arrendada, prédio antigo, 81,5% do rendimento vai para a renda; subsídios de férias e de natal já nem chegam para pagar o famigerado IRS, uma extorsão constitucional a quem menos tem! E assim vamos cantando e rindo ao sabor das falácia governativas e presidenciais!
🇵🇹 OPINIÃO
Por muito que nos pareça apenas uma coisa de crianças a brincarem à política, o silêncio de António Costa como resposta ao frenesim de Marcelo Rebelo de Sousa é demonstrador da incapacidade de tirar o país deste destino que, volta e meia, nos leva a cair no pântano.
Costa foi incompetente a contrariar esse destino, Marcelo foi inábil a mostrar-lhe outro caminho.
A última vez que tivemos um bloco central de palácios, estava Mário Soares em Belém e Cavaco Silva em São Bento, não foi muito diferente.
A Direita gosta muito de imaginar que Cavaco transformou estruturalmente o país, mas o oásis de Braga de Macedo nunca existiu e a chuva de milhões que vinha de Bruxelas serviu quase só para alimentar o negativo de uma balança comercial que andou sempre a rondar os 10% do PIB.
É tão verdade que os seus governos serviram para privatizar a economia (da banca e dos seguros ao que ainda restava da indústria, passando pela comunicação social), como é verdade que aceitou a destruição da agricultura e das pescas, como existiam, sem ser capaz de pôr de pé uma alternativa.
O pântano não é só de António Guterres, é também dos que encharcaram o deserto de ideias com quimeras de alcatrão e dos que confundiram incapacidade de investir em projectos transformadores com contas certas.
Em seis meses estaremos a celebrar meio século de Democracia, 46 anos de governos liderados pelo PS (26) ou pelo PSD (20), e há sempre alguma coisa a impedir-nos de ser um país viável. Desta vez é a habitação.
A falta dela a preços comportáveis impede os professores de aceitarem vaga em Lisboa e no Algarve e condena uma geração a estudar sem ter quem os ensine; afasta muitos estudantes da Universidade e empurra os enfermeiros e engenheiros para um país que os valorize; recebe de braços abertos os nómadas endinheirados (sempre disponíveis a saltar para onde param as modas), mas expulsa a classe média trabalhadora do centro das grandes cidades.
E, se houvesse um pingo de vergonha, paravam de vez com a ladainha de que o problema da habitação é comum a toda a Europa, porque os portugueses não se importavam nada de ter os problemas do primeiro mundo.
Só que, infelizmente, a crise portuguesa não começa no custo da habitação (casa própria ou arrendada), mas na percentagem do rendimento que é preciso gastar para a pagar.
Em Portugal, muitas famílias estão em sobrecarga, gastando mais de 40% do rendimento na habitação e isto não acontece em nenhum país com que o governo insultuosamente nos quer comparar.
A liberdade com que vivemos é a certeza de que Abril valeu a pena, mas a miséria de salários que se pagam em Portugal é a prova de que o país não cumpriu o seu desígnio.
Costa e Marcelo entretêm-se a falar da estabilidade que a relação dos dois dá à governação, como se houvesse uma só pessoa disponível para acreditar na patranha.
Como se isso, aliás, tivesse algum interesse para os milhões de portugueses que estão outra vez enfiados no pântano, sem dinheiro para pagar todas as despesas básicas. Pessoas que vivem com mais mês que dinheiro merecem mais respeito de quem as governa ou preside aos destinos do país.
Jornalista
DN
Paulo Baldaia
11 Setembro 2023 — 00:17
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 2 semanas ago
– “… Em Portugal, muitas famílias estão em sobrecarga, gastando mais de 40% do rendimento na habitação e isto não acontece em nenhum país com que o governo insultuosamente nos quer comparar.” “… Pessoas que vivem com mais mês que dinheiro merecem mais respeito de quem as governa ou preside aos destinos do país.”
Gastar 40% do rendimento na habitação, para mim, seria um paraíso! Vivendo em casa arrendada, prédio antigo, 81,5% do rendimento vai para a renda; subsídios de férias e de natal já nem chegam para pagar o famigerado IRS, uma extorsão constitucional a quem menos tem! E assim vamos cantando e rindo ao sabor das falácia governativas e presidenciais!