🇵🇹 OPINIÃO
A “rentrée do crude” aconteceu esta terça cinco, com o anúncio coordenado e conjunto de que Arábia Saudita e Rússia, continuarão a reduzir a produção de crude até ao final do ano.
Com a produção saudita propositadamente decrescente desde Junho, era esperado pelos mercados um alívio para o último trimestre do ano, uma benesse a partir do “Príncipe Reguila de Riade” que, entretanto, provara que é “quem mais ordena neste campeonato”!
Para já, ficou decidido que a Arábia Saudita reduzirá mais um milhão de barris por dia e a Rússia, mais modesta, mas a jogar em casa, contribui com uma redução de 300 mil barris dia.
Porquê?
Porque sim, porque quem produz manda. É quanto basta para os sauditas, sendo que têm razões para isso, são os maiores produtores e com mais reservas. Querem naturalmente ter “mão visível” no mercado.
Por isso mesmo, também foi anunciado pelas autoridades sauditas que apesar da redução, serão efectuadas avaliações mensais às necessidades do mercado global, para perceberem se têm que “apagar algum fogo”, acalmar alguns ânimos, ou ainda reduzir ainda mais, enquanto reforçam a sua posição neste tabuleiro estratégico.
Quanto às “autoridades sauditas” deste sector-chave da economia saudita-mundial, resumem-se a dois homens, o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman e seu meio-irmão, o príncipe Abdulaziz bin Salman, ministro dos Petróleos do Reino.
Esta dupla, com “músculo para flectir”, parece querer iniciar uma “frente unida para lá de Kiev”, já que a recente adesão aos BRICS, faz Arábia Saudita, Irão e Emirados Árabes Unidos (três novos efectivos a partir de Janeiro), juntamente com Brasil, Rússia e China (todos BRICS), representarem seis entre os nove maiores produtores de petróleo do mundo.
Porque será que a OPEP anuncia/pede aumento de produção e Arábia Saudita reduz? Porque o verdadeiro poder está nesta “frente unida dos petroleiros de todo o mundo”! Para já, a iniciativa é saudita e neste jogo, a regra diz que “quem chega primeiro geralmente ganha”!
Porque ao reduzir/aumentar a produção, controla-se o preço e ao reduzir, aumentam automaticamente os preços dos combustíveis em Badajoz. Isto é o básico, ter mão no mercado, controlá-lo a gosto como, quem controla a banca no jogo do Monopólio.
Mas há também outro interesse, que tanto é comum a russos/sauditas, como americanos/ocidentais na generalidade. Esta redução da produção/fluxo de crude, também vai refrear a indústria/economia chinesa, o maior importador de petróleo do mundo, sobretudo clientes de sauditas.
Mercado apertado, sob liderança saudita e poder agradar a ocidentais numa rubrica tão importante, é ter argumentos para não alienar totalmente aliados importantes como americanos e europeus, perante a decisão de se alinhar com a Rússia na “guerra das matérias-primas”.
Os preços do crude têm aumentado 20% desde Junho, coincidentemente acompanhando um contínuo desaceleramento da economia chinesa. Missão cumprida e em curso, que assim agrada-se a “russos e a troianos”!
A Arábia Saudita tem “a guitarra e as unhas” e vai continuar a tocá-la ao seu ritmo, soberano e altivo. Pelo Natal, o barril de crude deverá bater nos míticos 100 dólares ou mais. Sorte saudita, o Natal “ser uma cena káfir”!
Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt
Escreve de acordo com a antiga ortografia
– Os nomes dos meses escrevem-se, segundo a antiga ortografia, com iniciais grandes, não minúsculas.
DN
Raúl M. Braga Pires
08 Setembro 2023 — 00:20
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 2 semanas ago