– É pena que tanto “patriotismo” sobre as Forças Armadas, a Bandeira, deveres, blá, blá, blá, este senhor doutor graduado oficial na Escola Prática de Engenharia em Tancos, não escreva no Português de Camões e use o abominável acordo ortográfico para o fazer…
🇵🇹 OPINIÃO
Estrangeiros ou imigrantes nas Forças Armadas portuguesas? Esta possibilidade, que agora emergiu por sugestão de alguns actores políticos, configura (mais) uma perigosa fuga para a frente, num país que parece viciado no conceito low cost para resolver alguns dos seus problemas estruturais.
Neste caso, a aventura entra no domínio da soberania, uma linha vermelha que não pode ser ultrapassada.
A razão que parece suscitar esta ideia peregrina é a escassez de efectivos, que coloca em risco o normal funcionamento das Forças Armadas e o cumprimento das missões em que Portugal participa, no quadro das suas obrigações internacionais.
Parece-me um motivo de preocupação relevante, razão pela qual importa reflectir sobre as causas que sub-jazem à situação a que se chegou e sobre os riscos que a incorporação de estrangeiros implica.
A raiz do problema está na decisão de extinção do serviço militar obrigatório. Uma decisão populista que pecou pelo simplismo. Sem servir nas Forças Armadas, a maioria esmagadora dos jovens portugueses fará toda a sua vida de modo alheio a um conjunto de valores que estruturam a pátria e a unicidade do nosso país.
São muitos os que não conhecem a letra do hino nacional e demasiados os que tratam a pátria como um farrapo, contribuindo para o problema da falta de auto-estima que infelizmente atravessa a nossa sociedade.
Outros países encontraram formas inteligentes de modelar o serviço militar obrigatório, nomeadamente reduzindo a sua duração a seis meses, permitindo o adiamento para completar estudos e abrindo a possibilidade alternativa da prestação de um serviço cívico, o que permite acomodar os casos de objecção de consciência e ajustar o volume de recrutamento às necessidades.
Importa desfazer o mito de que os seis meses de tropa são inúteis e atrasam desnecessariamente a vida dos jovens. É falso.
Importa desfazer o mito de que os seis meses de tropa são inúteis e atrasam desnecessariamente a vida dos jovens. É falso.
Primeiro, porque lá se aprendem conteúdos úteis e necessários; segundo, porque se a preocupação fosse o “atraso” de seis meses, a maioria dos jovens utilizaria melhor o seu tempo enquanto estudantes (exemplo gritante: nas universidades, apenas em metade das semanas do ano há aulas, gastando-se muitos meses com férias, recepções ao caloiro, praxes, queima das fintas, etc.); terceiro, porque nas Forças Armadas se reforça a identidade com os valores da pátria e a ideia – para mim fundacional – de que pela bandeira (leia-se, as pessoas, os valores e o território) se dá a vida, se necessário.
Com uma base de recrutamento mais larga, a retenção de efectivos para a carreira militar seria natural, desde que fossem criadas as condições necessárias, o que remete para a outra causa do problema: a deterioração do quadro remuneratório e laboral dos militares.
Ganham mal, têm carreiras pouco atractivas e um apoio social e médico insuficiente. Esse investimento tem de ser feito, pois o esvaziamento dos quadros está iminente.
Tentar garantir o preenchimento das necessidades através do recrutamento de estrangeiros é cristalizar um cenário de desqualificação e salários baixos.
O risco é atrair pessoas que vêm por necessidade, que se sujeitam àquilo que os portugueses rejeitam e que não têm qualquer adesão aos valores da pátria. Teríamos, assim, forças mercenárias e não Forças Armadas!
Cumpre-me uma declaração de interesse: cumpri serviço militar em Tancos, com 31 anos de idade, após adiamento para completar o doutoramento, onde me graduei oficial na Escola Prática de Engenharia, sob o comando do então coronel Valença Pinto, que mais recentemente veio a servir como Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.
Professor catedrático
DN
José Mendes
03 Setembro 2023 — 01:03
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 3 semanas ago