368: Fósseis de animais com mais de 560 milhões de anos descobertos em Idanha-a-Nova

 

🇵🇹 PORTUGAL // 🦖🦴FÓSSEIS // PALEONTOLOGIA

Penha Garcia já era reconhecida pela comunidade científica internacional pela existência de fósseis de organismos marinhos que ali viveram há quase 480 milhões de anos.

Penha Garcia, no concelho de Idanha-a-Nova
© Pedro Granadeiro / Global Imagens

Uma equipa de cientistas descobriu em Penha Garcia, no concelho de Idanha-a-Nova, os fósseis de animais mais antigos encontrados em Portugal, com idade superior a 560 milhões de anos.

Em comunicado enviado à agência Lusa, o município de Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, revelou que a descoberta foi feita por uma equipa de cientistas a trabalhar com o apoio da autarquia e coordenada por Carlos Neto de Carvalho, paleontólogo do Geopark Naturtejo.

“Os fósseis de animais mais antigos encontrados em Portugal foram agora descobertos nas proximidades de Penha Garcia. Idades obtidas nas proximidades do local onde foram encontrados os fósseis apontam para valores superiores a 560 milhões de anos“.

Penha Garcia já era reconhecida pela comunidade científica internacional pela existência de fósseis de organismos marinhos que ali viveram há quase 480 milhões de anos.

O novo sítio paleontológico foi descoberto nas proximidades da Capela de Nossa Senhora de Guadalupe.

Os fósseis foram encontrados pelo paleontólogo italiano Andrea Baucon, no âmbito de uma investigação ainda em curso.

“A descoberta foi uma emoção incrível. Procuramos esses fósseis há mais de 15 anos, mas só agora os encontrámos”, afirmou Andrea Baucon.

Até hoje nunca tinham sido encontrados restos fossilizados de animais em rochas tão antigas.

Não longe de Penha Garcia, já tinham sido descritos os fósseis mais antigos de Portugal, bactérias com dimensões de milésimas de milímetro, pelo geólogo António Sequeira.

Os fósseis agora encontrados ocorrem em rochas ainda mais antigas do que aquelas e serão, portanto, ainda mais antigos.

“Isso implica que os fósseis recém-descobertos enfrentaram um vertiginoso abismo de tempo”, referiu o paleontólogo italiano.

O animal teria pouco menos de 10 milímetros de largura e deixou preservado nas rochas o seu trajecto, algo sinuoso, enquanto se alimentava de restos orgânicos contidos nos sedimentos.

Esta marca de actividade biológica conhecida como icnofóssil permite entender o modo como este animal se alimentava.

“Sabemos que o organismo responsável pelo icnofóssil possuía um esqueleto rígido, algo que nos é indicado pela forma como penetrou e revolveu os sedimentos à medida que se deslocava com a intenção de procurar alimento, movendo-se para cima e para baixo, para o lado e para o outro — mobilidade, evidências de reacção a estímulos nervosos e presença de esqueleto são critérios que melhor definem actividade animal”, referiu Carlos Neto de Carvalho.

O Geopark Naturtejo Mundial da UNESCO organiza uma nova campanha de investigação em Penha Garcia, enquanto cientistas do Museu de História Natural de Piacenza e da Universidade de Génova analisam a curiosa forma das estruturas já encontradas.

DN/Lusa
01 Setembro 2023 — 17:25


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367: Os BRICS e os novos equilíbrios geopolíticos: para onde vamos?

 

🇵🇹 OPINIÃO

No discurso de encerramento, a 24 de Agosto, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o anfitrião da cimeira deste ano, reconheceu que os BRICS constituem “um grupo diversificado de nações”. Foi um resumo adequado.

Os BRICS estão longe de ser um bloco com objectivos claros e comuns. Cada um puxa a brasa à sua sardinha. A China quer alargar a sua influência geopolítica e económica, e posicionar-se como o líder alternativo do mundo de amanhã.

A Índia, para além de estar sempre em concorrência e, por vezes, em conflito aberto com a China, sabe que a sua participação é indispensável para travar a entrada do Paquistão em novas alianças. Em termos absolutos, a Índia considera o Paquistão como a maior ameaça à sua segurança nacional.

O Brasil precisa de ser visto na companhia dos grandes das várias regiões do globo, para poder um dia ingressar de modo permanente no Conselho de Segurança, quando o milagre da actualização da Carta das Nações Unidas vier a acontecer. O mesmo se passa com a África do Sul. Quanto à Rússia, continua enredada no labirinto do seu próprio passado.

Olha para o mundo em termos de antagonismo político com o Ocidente e parece acreditar que tem nos BRICS uma plataforma capaz de respaldar essa obsessão.

A dispersão geográfica e a discrepância quanto aos objectivos de cada Estado-membro complicam a construção do futuro. Acenar a bandeira do agora muito falado Sul Global, numa hostilidade militante contra o G7, também não é uma via de progresso.

Como António Guterres lembrou, na sua intervenção oficial, o fundamental é a confiança e a cooperação entre os povos, bem como a renovação das instituições já existentes, de modo a torná-las mais abrangentes, mais consentâneas com a cena internacional actual. Verdadeiramente representativas, poder-se-á dizê-lo em duas palavras.

Para já, o banco de desenvolvimento recentemente estabelecido em Xangai e que Dilma Rousseff preside, debaixo do olhar atento dos chineses, que são de longe os principais accionistas, é a dimensão mais visível dos BRICS.

Mas não pode ser comparado com outras instituições congéneres que existem há décadas – o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento, ou o Asiático, com sede em Manila, ou ainda o Banco Inter-americano de Desenvolvimento, que serve a América Latina e as Caraíbas, o FMI, sem esquecer os europeus. Talvez seja bom lembrar que a China faz parte da maioria destas instituições.

Os projectos e os programas aprovados por estes bancos e organizações internacionais dão luz verde aos grandes investidores privados, são instrumentos de alavancagem financeira. O banco de Dilma Rousseff está ainda na fase de arranque.

Terá de mostrar que funciona na base da sustentabilidade dos projectos que vier a financiar e não por razões ligadas aos interesses políticos da China ou de um qualquer outro membro dos BRICS.

Os próprios dirigentes dos BRICS mostraram em Joanesburgo que têm divergências quanto ao futuro. Enquanto a China e Rússia queriam facilitar a adesão de um bom número de novos países, para expandir a sua esfera de influência, a África do Sul, o Brasil e a Índia defenderam um alargamento mais faseado.

No final, apenas seis novos países se irão juntar, em 2024, aos cinco já existentes. E de entre esses, quatro são casos problemáticos na cena internacional. É previsível que acabem por ter um impacto negativo sobre o futuro da organização.

Penso na Argentina, um país próximo da falência total. Na Etiópia, um Estado etnicamente fracturado e sempre à beira de conflitos internos violentos. No Egipto e na sua fragilidade económica e social.

E finalmente, no Irão, com os seus problemas internos e externos, e a sua maneira muito peculiar, medieval, de se organizar política e socialmente. A estes quatro poderia acrescentar a Arábia Saudita, que é outra aberração ditatorial e sanguinária.

Num tom mais ligeiro, dá vontade de parafrasear Groucho Marx e acrescentar que qualquer país mais a sério, se fosse convidado, recusaria inscrever-se num clube deste género, a não ser que tivesse esperança de receber alguma ajuda dos chineses ou se achasse que a pertença aos BRICS seria um estratagema para escapar às convenções internacionais. Convém, no entanto, olhar para estas coisas pela positiva.

E a mensagem que a cimeira nos enviou pode ser lida assim: é preciso encontrar novos equilíbrios nas relações internacionais. A começar pela reforma do sistema das Nações Unidas.

Antigo secretário-geral adjunto das Nações Unidas

DN
Victor Ângelo
01 Setembro 2023 — 00:27


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Gabão 2023 – “Françafrique 1959”

 

🇵🇹 OPINIÃO

Os acontecimentos desta semana no Gabão marcam o sétimo golpe militar em África, desde 2020 (atenção, o Mali teve “dois golpes dentro do Golpe” e o Burquina teve “um golpe dentro do Golpe!”). O “Gabão 2023” explica-se num parágrafo!

No passado sábado 26, o Gabão teve eleições presidenciais, para uma esperada terceira vitória consecutiva do candidato-Presidente (PR) Ali Bongo Ondimba, no cargo desde 2009.

As condições habituais para a “chapelada eleitoral” estavam criadas. Corte total da Internet durante três dias, incluindo o de voto e proibição da presença de jornalistas estrangeiros e de observadores eleitorais, nomeadamente da União Europeia, que não puderam validar os resultados e a condução do processo.

O timing dos militares foi o anúncio dos resultados na quarta-feira 30, que confirmavam a vitória do PR Bongo com 64,27% dos votos. Os militares não decidiram terminar com uma presidência que durava desde 2009, mas com um regime que dura desde 1967!

Porquê? Porque a “dinastia Bongo” tinha planos para ganhar a alcunha de “Coreia do Norte Africana”, ao programar colocar o neto do PR Omar Bongo (1967-2009) na cadeira que fora do avô e do pai. Ou seja, os gaboneses prospectivavam os próximos 50 anos, como viveram os últimos. Disseram basta!

Aproveitaram os ventos de propaganda anti-francesa que sopram África adentro e resolveram fazer aquilo que ouvem muitas vezes o homem branco dizer nos fóruns internacionais, “soluções africanas para problemas africanos!”

Não tendo nada a ver com os golpes no Mali, Burquina, nem com os russos, no entanto o golpe no Gabão procura exactamente o que os citados, mais o Níger procura. “Mentiras novas”, alternativas “às natas azedas” e opções face à colonial “tábua de queijos”, sempre franceses, sempre iguais.

Em suma, do Mali ao Gabão, a rejeição africana da década de 20 é à “Françafrique de Foccard e De Gaulle”. Essa é que é essa!

O termo “Françafrique” foi cunhado em vários livros pelo activista de direitos humanos François-Xavier Verschave, nos quais explica o esquema encontrado pelo Empresário-Conselheiro Presidencial Jacques Foccard e o PR Charles de Gaulle (por 1959-60), para manterem o controlo económico e geoestratégico das colónias a descolonizar.

“O mais longo escândalo da República”, segundo Verschave, que vê também neste modelo de imposição de dependências “uma organização criminosa que funciona através de uma nebulosa de actores económicos, políticos e militares, em França e em África, organizados em redes e grupos de lóbi empenhados em se apropriarem de recursos naturais e fundos canalizados para o desenvolvimento/bem público”.

O Gabão e a família Bongo, foram um dos pilares da Françafrique, sobretudo quando na década de 1970 se descobriu petróleo no país.

O instrumento francês que serviu de trela aos gaboneses foi a Elf-Gabon, subsidiária da Elf-Aquitaine e que durante décadas agiu como governo-sombra, em benefício dos interesses franceses.

Outro bom exemplo de outro “instrumento-trela” utilizado na África Ocidental, é o Franco CFA (colónias francesas em África, explícito!). 50% do bolo Franco CFA, está no Banco Central Francês, forma de manter controlo sobre a gestão diária dos países aderentes à UEMOA (Union Economique et Monetaire Ouest Africaine, oito associados de Bissau ao Benim).

Esta onda de golpes explica-se através da seguinte imagem, “a bola do colonialismo há muito que bateu na parede e agora está-nos a rebentar na cara!”

Nesse sentido e no seguimento do fim de uma “presidência de 1967”, os PR”s Paul Biya dos Camarões (desde 1982) e Teodoro Obiang da lusófona Guiné-Equatorial (desde 1979), não deverão andar a dormir descansados!

Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt
Escreve de acordo com a antiga ortografia

DN
Raúl M. Braga Pires
01 Setembro 2023 — 00:25


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365: Os sem-abrigo e o jogo do empurra

 

– Mas ainda existem ingénuos neste país que (palavra inventada) acreditam nas “patranhices” dos políticos? Todos eles, sem excepção, de uma ponta a outra do Parlamento?

🇵🇹 OPINIÃO

Recuámos tão atrás quanto os meios digitais nos permitem para analisarmos as declarações políticas sobre os sem-abrigo. Desde 2015 que a nossa busca se revelou profícua em afirmações de protagonistas políticos sobre a urgência de acabar com os sem-abrigo em Portugal.

António Costa, em 2015, então Presidente da Câmara de Lisboa, manifestava a necessidade de “devolver dignidade aos sem-abrigo”.

O tema foi estando presente, sucessivamente, na agenda mediática, com afirmações do socialista Vieira da Silva, então responsável máximo no ministério da Solidariedade, quando falava da “integração dos sem-abrigo na sociedade”.

Marcelo Rebelo de Sousa foi, mais tarde, o paladino deste combate no conveniente período natalício de 2018 quando afirmava que “estar em cima da realidade social dos sem-abrigo era muito importante”.

Pois bem! Vejamos então os resultados, actuais, desta sucessiva prosápia política.

Em 2018, números de Lisboa, havia 2473 cidadãos sem um tecto para dormirem. Em 2022, ainda na capital, existiam 3138. O número dos sem-abrigo em 2021, em todo o país, era de 9604, sendo que um terço “vive” em Lisboa.

A mesma Lisboa onde, em 2022, o número de pessoas sem-abrigo ascendia aos 394. Para constatar esta realidade basta, aliás, percorrer algumas ruas da cidade.

O orçamento dedicado ao assunto, apesar de ter aumentado ao longo dos anos, tem-se revelado, manifestamente, insuficiente. Em 2022, em Lisboa, foram gastos 5,7 milhões de euros com a protecção dos sem-abrigo. Em 2019 esse valor tinha sido de 1,6 milhões de euros, tendo ascendido aos 4,2 milhões de euros em 2021.

Com este panorama ficámos surpreendidos com a notícia da situação de braço de ferro que existe entre o Governo e a Câmara de Lisboa a propósito de necessidade de encontrar, em Lisboa, um espaço alternativo para albergar, provisoriamente, os sem-abrigo que vivem, actualmente, no Quartel de Santa Bárbara em Arroios.

Nesta velha unidade militar da GNR, em boa hora, vão ser construídos 240 fogos de renda acessível, pelo que o espaço deverá ser desocupado até 30 de Setembro.

Para o efeito, Carlos Moedas pediu ao Executivo de António Costa a cedência de um espaço que recebesse (repito, provisoriamente) os sem- abrigo do Quartel de Santa Bárbara. A resposta, sob a forma de um rotundo não, veio da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho.

Ó vida! Mas será que no dimensionado património imobiliário de Estado não haverá um espaço para receber (digo outra vez, provisoriamente) os sem-abrigo do Quartel de Santa Bárbara? Então Sra. ministra? Procurou bem?

A Sra. ministra acha mesmo que responder à Câmara de Lisboa “que a situação dos sem-abrigo é da responsabilidade das entidades locais” é uma resposta que se dê para uma questão desta gravidade?

É no mínimo lamentável que, para um assunto com esta sensibilidade social, não exista um patamar de entendimento entre a Câmara de Lisboa e o Governo.

Já sabemos que pactos de regime e plataformas de entendimento não é coisa que esteja no ADN dos partidos que nos representam. Mas caramba! Trata-se de dar um tecto a concidadãos nossos que dele necessitam.

Talvez não seja má ideia, então, a Sra. ministra Ana Mendes Godinho reler o discurso de tomada de posse do primeiro-ministro António Costa em Outubro de 2019, quando este prometeu uma “maioria de diálogo. De diálogo parlamentar, político e social”.

E, assim, colocar em prática este salutar princípio político que António Costa fez questão de escolher para o solene momento da sua tomada de posse.

Esta questão dos sem-abrigo é, deste modo, uma excelente oportunidade para materializar as promessas políticas do Governo e acabar com o jogo do empurra numa questão tão prioritária como dar um tecto a quem precisa dele.

DN
António Capinha
01 Setembro 2023 — 00:19


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364: E depois da dinastia Bongo?

 

🇵🇹 OPINIÃO

Há algumas dúvidas sobre a idade do novo homem-forte do Gabão, mas seja 48 anos, 49 ou até 50, é certo que o general Brice Olingui Nguema nunca conheceu um presidente do seu país que não fosse um Bongo, primeiro Omar e depois Ali, afastado agora do poder depois de uma vitória eleitoral denunciada como fraudulenta.

Apesar de toda a incerteza gerada pela acção do chefe da guarda presidencial, houve festejos da população, a maioria muito provavelmente desapontada com os resultados de 55 anos de dinastia Bongo, período tão longo que quase se confunde com a história do Gabão, independente de França desde 1960.

Não é caso único o Gabão como república dinástica. Os Assad estão no poder na Síria desde 1971, os Kim na Coreia do Norte desde 1945, uma sucessão que vai já num neto.

Também no Azerbaijão os Aliev governam desde 1993. E por estranho que pareça, dinastias políticas em repúblicas nem sequer são automaticamente sinónimo de ditaduras: na Índia, a maior democracia do mundo, Rahul Gandhi ainda hoje tenta chegar a primeiro-ministro, cargo que foi do pai, Rajiv, da avó, Indira, e do bisavô, Jawaharlal Nehru.

E os Estados Unidos já tiveram dois Adams presidentes, e também, não há muitos anos, dois Bush, mas em nenhuma das situações a Casa Branca passou de pai para filho directamente.

Num mundo em que reis e imperadores vão desaparecendo a ritmo acelerado, e em que raramente uma república volta a ser uma monarquia (Espanha é um caso excepcional), esta lógica das dinastias políticas não deixa de ser bizarra, mesmo que tenha sempre explicações, desde o convívio precoce com o ambiente político até o herdar de apoios que eram do pai, da mãe, do marido ou da mulher (sim, também existem os viúvos que se tornam líderes, como Sirimavo Bandaranaike no Sri Lanka, primeira primeira-ministra no mundo, ou o marido da assassinada Benazir Bhutto, que foi presidente do Paquistão).

Nas actuais monarquias, há algumas em que o papel do chefe de Estado é só simbólico, como no Reino Unido ou nos Países Baixos, um excepcionalismo baseado nos laços de sangue aceite pela maioria da população.

Também há monarquias, como em Marrocos, em que o rei tem um papel-chave para a estabilidade política e a coesão nacional, e, portanto, um poder que é bastante superior aos dos monarcas europeus.

E, claro, há monarquias como as do Golfo Pérsico onde os reis ainda mandam tanto como noutros séculos os congéneres mandavam um pouco por toda a Europa.

Portanto, por muito que se estranhe as dinastias, sobretudo as republicanas, o golpe contra Bongo tem de ser visto sobretudo no quadro da revolta contra uns resultados eleitorais falsificados, da fragilidade de um presidente que nunca recuperou totalmente de um AVC, e das desigualdades num país que é uma potência petrolífera, mas nunca se livrou da corrupção e tem visto a percentagem de pobres aumentar.

Que soluções tem, porém, o general Nguema para o Gabão? Pôr fim a uma dinastia não significa que tivesse de assumir a Presidência. E se o pretexto para derrubar Bongo foi o apego cego deste ao poder ao ponto de promover a falsificação eleitoral, então que papel vai ser atribuído ao candidato da Oposição, Albert Ondo Ossa?

Haverá novas eleições em breve? Com Nguema candidato ou cedendo o lugar aos civis?

Director adjunto do Diário de Notícias

DN
Leonídio Paulo Ferreira
01 Setembro 2023 — 00:02


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