– Esta terminologia do “soft power” fez-me recordar uma afirmação feita pela então presidente da Assembleia da República Portuguesa: “Assunção Esteves fala do seu maior medo, o do “inconseguimento” e os cibernautas estranharam expressões como ‘nível social frustracional derivado da crise’ ou ‘inconseguimento’ de a ‘Europa se sentir pouco conseguida’ e ‘não projectar para o mundo o seu soft power sagrado’.” Muito me ri na época 😉
🇵🇹 OPINIÃO
Em Dezembro de 2022 Cristiano Ronaldo (CR7) juntou-se ao Al Nassr numa transacção que poderá atingir 200 (?) milhões de euros / ano, enquanto em Junho de 2023 Karim Benzema e N”Golo Kante trocaram o Real Madrid e o Chelsea, respectivamente, pelo Campeão Saudita Al Ittihad.
O Al Hilal reforçou-se recentemente com Neymar Jr., que os media dizem ir receber 100 milhões de euros / ano.
Outras estrelas do futebol devem continuar a engrossar os clubes da Liga Profissional Saudita (SPL). Uma parte significativa deste “fluxo ininterrupto de petrodólares“, provém do fundo soberano saudita – o Fundo de Investimento Público (PIF).
Como parte do Projecto de Investimento e Privatização de Clubes Desportivos, quatro clubes sauditas – Al Ittihad, Al Ahli, Al Nassr e Al Hilal – foram transformados em empresas, cada uma das quais é propriedade do PIF (75%) e de fundações sem fins lucrativos.
Porque está o PIF a fazer estes investimentos multimilionários? De acordo com declarações dos seus responsáveis, para valorizar as empresas-clubes e, subsequentemente, vendê-las, privatizá-las.
A estratégia não é nova. A Qatar Sports Investments (QSI) – uma sub-holding do fundo soberano do Qatar (QIA) investindo em activos desportivos – já a adoptara.
Seguindo os passos do Sheikh Mansour [ibn Zayed Al Nahyan] (príncipe do Abu Dhabi) que adquirira em 2008 o Manchester City, a QSI adquiriu, em 2011-2012, o clube francês PSG e, em 2022, tomou 21,67% do SC Braga, sendo que também investiu no Premier Padel Tour, em articulação com a FIP.
De caminho, o Qatar organizou, em 2022, o Campeonato Mundial de Futebol da FIFA.
Paralelamente, empresas de aviação estatais dos EAU e do Qatar também investiram fortemente no futebol europeu; Emirates, Etihad Airways e Qatar Airways têm vultuosos acordos de promoção com clubes de futebol europeus no valor de centenas de milhões de euros.
Olhando para além das acusações de sportswashing, há claramente um propósito na estratégia do PIF: melhorar a imagem externa da Arábia Saudita.
Um exemplo disso é o investimento no Newcastle United, clube da Premier League inglesa; e o PIF tem feito outros investimentos desportivos internacionais – na Fórmula 1 (Aston Martin), em corridas de cavalos (Saudi Cup), boxe, ténis, luta livre (WWE) e golfe (LIV Golf).
Para a liderança da Arábia Saudita, o desporto é um dos pilares da sua estratégia de desenvolvimento nacional e diversificação económica “Visão 2030” e um veículo para melhorar relações diplomáticas e obter boa vontade política, gerando ainda investimentos no reino e contribuindo para criar novas indústrias e empregos – e o PIF está no centro desta estratégia.
A estratégia em relação ao desporto não pode ser vista de forma desgarrada da estratégia de diversificação económica noutros sectores económicos. A Arábia Saudita ambiciona entrar em várias áreas da economia do futuro, incluindo as das energias verdes, da mobilidade e armazenamento eléctricos e tecnológicas.
No que tange ao futebol, estas contratações – e demais investimentos no sector – facilitam o ambicioso plano da SPL de se tornar numa das 10 melhores ligas profissionais do mundo até 2030.
A contratação de tantas estrelas do futebol mundial vai aumentar a visibilidade e audiências da SPL, tendo já gerado acordos para transmissões televisivas / cabo em mais de 120 países.
Para além dos direitos televisivos, vai permitir várias formas de retorno aos investimentos ora feitos (e.g., patrocínios comerciais, merchandising, reforço dos laços com redes comerciais no Ocidente). Mas o retorno mais desejado pela liderança saudita é o reforço do seu soft power a nível internacional.
O objectivo é mudar a imagem de um reino ultra-conservador e arcaico onde as mulheres não podiam conduzir e a música e o entretenimento eram manifestações do demo, para um país moderno, palco de mega-eventos desportivos, aberto ao turismo e ao exterior, com boa qualidade de vida assente numa economia de serviços.
Consultor financeiro e business developer
www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira
DN
Jorge Costa Oliveira
23 Agosto 2023 — 00:02
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 1 mês ago
– Esta terminologia do “soft power” fez-me recordar uma afirmação feita pela então presidente da Assembleia da República Portuguesa: “Assunção Esteves fala do seu maior medo, o do “inconseguimento” e os cibernautas estranharam expressões como ‘nível social frustracional derivado da crise’ ou ‘inconseguimento’ de a ‘Europa se sentir pouco conseguida’ e ‘não projectar para o mundo o seu soft power sagrado’.”
Muito me ri na época 🙂