– O problema habitacional, no actual contexto social, é um autêntico escândalo e um ataque a todos aqueles que têm baixos rendimentos e/ou estão desempregados (de curta ou longa duração) e, com alguma sorte, a estarem a ser apoiados por familiares para a sua sobrevivência. Todos os políticos, tenham eles a cor que tiverem, a começar no presidente da República, não possuem a mínima noção do que é tentar (sobre)viver nesta selva social em que Portugal se tornou. Desemprego, baixos salários, miseráveis pensões de reforma, despesas acrescidas, são o pão nosso de cada dia. Mas sentados nas suas poltronas a rabiscarem uns decretos, umas normas, sem qualquer noção do que se passa no terreno – ou fingem ignorar, o que é ainda mais grave -, lá vão andando cantando e rindo, em passeatas ao estrangeiro, em almoçaradas, banquetes, recepções e afins.
🇵🇹 OPINIÃO
Não foi assim há tanto tempo que em Lisboa se arrendava um T1 central por 550 euros. Era possível até 2015, quando o valor do salário médio bruto em Portugal rondava o dobro, precisamente.
Só que o cenário mudou de forma tão dramática que hoje nos damos conta de que a capital portuguesa foi a mais cara da Europa para arrendar casa no segundo trimestre deste ano, a avaliar pelo índice internacional Housing Anywhere.
O mesmo T1 já custava em média 2.500 euros mensais nos novos contratos, num mercado tão caro e com imensa procura e muito pouca oferta. E mais, já é proibitivo arrendar apenas um quarto.
Custa 506 euros em média, com base nos anúncios publicados no portal imobiliário Idealista. O salário médio, esse, só cresceu 300 euros nestes últimos oito anos.
Não chegarão a este nível, com certeza, os rendimentos da maioria dos que procuram quarto para arrendar, atendendo ao salário mínimo nacional. Num mercado em que a oferta cresceu 146% no último ano em Lisboa – e que se impõe saber até onde a fiscalização está a actuar -, competem por partilhar casa com estranhos, solteiros, divorciados e jovens deslocados em início de carreira. Muitos destes, com ordenados baixos, em estágios ou precários.
E em Setembro volta o drama das famílias dos estudantes universitários, os novos e os que prosseguem estudos: todos os anos se repete a procura por um quarto, à parte do custo da alimentação, de muitas despesas da casa, do material escolar e dos imponderáveis.
Tudo isto somado já custa um salário só para ter um filho a estudar longe da casa dos pais. Muitos desistem antes mesmo de concluírem o curso, outros, no limite, percorrem largas dezenas de quilómetros diariamente só porque sai mais barato.
No caso de quem procura trabalho, muitos recusam propostas por não conseguirem suportar o custo de vida. Não é por opção, são obrigados. Em Lisboa arrendar quarto está 23% mais caro do que em Julho de 2019.
Mas há exemplos de subidas maiores. Aveiro foi onde os preços mais aumentaram (50%) e no Porto o acréscimo é de 30%.
Não há salários que acompanhem variações destas no custo da habitação, por um quarto apenas, por casa arrendada ou comprada. Não se governa de costas voltadas para os problemas, sem compromisso por uma resolução célere, consensual e efectiva.
António Costa não foi surpreendido agora pelo flagelo na habitação, desde que em 2015 assumiu funções a evolução tem sido galopante. E o custo social está à vista. Veremos quando será travado.
Sub-director do Diário de Notícias
DN
Bruno Contreiras Mateus
23 Agosto 2023 — 00:07
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 4 semanas ago
– O problema habitacional, no actual contexto social, é um autêntico escândalo e um ataque a todos aqueles que têm baixos rendimentos e/ou estão desempregados (de curta ou longa duração) e, com alguma sorte, a estarem a ser apoiados por familiares para a sua sobrevivência.
Todos os políticos, tenham eles a cor que tiverem, a começar no presidente da República, não possuem a mínima noção do que é tentar (sobre)viver nesta selva social em que Portugal se tornou.
Desemprego, baixos salários, miseráveis pensões de reforma, despesas acrescidas, são o pão nosso de cada dia.
Mas sentados nas suas poltronas a rabiscarem uns decretos, umas normas, sem qualquer noção do que se passa no terreno – ou fingem ignorar, o que é ainda mais grave -, lá vão andando cantando e rindo, em passeatas ao estrangeiro, em almoçaradas, banquetes, recepções e afins.