338: Pontal. O copo meio vazio

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– Felizmente muitas pessoas já se aperceberam que todos estes políticos, tenham eles a cor e a ideologia que tiverem, apenas pretendem tacho e poder. As pessoas apenas contam em época de eleições em que todos eles vêm para as ruas, sorridentes, dando beijinhos, abraços, tirando selfies e vomitando aldrabices sobre aldrabices. E depois ficam admirados que a abstenção vá subindo de eleição para eleição! Os portugueses não são estúpidos! A tacanhez deles é que não consegue vislumbrar a realidade!

🇵🇹 OPINIÃO

Crescimento económico anémico. Uma enorme carga fiscal. Serviços públicos insuficientes, desorganizados e sem qualidade.

Estes são os três principais problemas que afligem a sociedade portuguesa e que o Governo nos sete anos que já leva do exercício de poder não conseguiu resolver. Alguns, convenhamos, que até se agravaram.

Era suposto Luís Montenegro, líder do PSD, ter dado indicações na Festa do Pontal, sobre as soluções que tem para resolver estes constrangimentos que representam o que de pior existe na sociedade portuguesa.

Mas Montenegro, no Pontal, decidiu falar apenas da questão da carga fiscal. É uma estratégia imediatista e insuficiente que não lhe confere uma imagem de liderança forte.

Percebe-se a escolha do líder laranja. Claro que o PS com a proximidade das eleições europeias vai, inevitavelmente, baixar os impostos, muito em particular o IRS.

Montenegro quis antecipar-se e ser ele a marcar a agenda política numa questão tão sensível como são os impostos que todos nós pagamos. Mas deveria ter ficado por aí, como ficou? Deveria ter embarcado numa lógica eleitoralista?

É suposto um líder da oposição, do (ainda) maior partido da oposição, nos momentos chave, como a Festa do Pontal, fazer um discurso que englobe soluções para os estrangulamentos sociais, políticos e económicos que o país vive.

Apresentar um projecto para o país. Será razoável escolher apenas a questão fiscal? Julgamos que não. Setembro vai chegar com um rol de problemas.

O começo do ano escolar e as ameaças de greve dos professores, assunto não resolvido que parece estar a transformar-se, agora, no eixo de desentendimento entre Belém e São Bento.

O problema da habitação que está a agravar-se dia-a-dia, com a tentativa de uma nova legislação que repousa, ainda, em Belém e ninguém sabe qual será a sua formulação final. Legislação em que, aliás, muito poucos acreditam.

De facto, soube a pouco a intervenção de Luís Montenegro na Festa do Pontal. A história da Festa do Pontal, nascida no longínquo ano de 1976, pelo pensamento de Sá Carneiro, remete para uma simbologia política que não se coaduna com mensagens sectoriais.

As pessoas estão à espera de saber, em toda a plenitude, o que pensa o líder da oposição, sobre o país, se um dia chegar a sentar-se na cadeira de São Bento. Escolher apenas a questão fiscal é abraçar uma lógica redutora.

Não que a questão fiscal não seja importante. Mas não chega! O que fica de fora tem uma enorme importância na sociedade portuguesa. Assim, sabe a pouco o que Montenegro disse no Pontal.

Como não falar da questão da saúde. Da habitação! Da educação! Da Justiça! Das questões ambientais. Claro que o líder do PSD já abordou e apresentou propostas políticas avulsas para alguns destes temas.

Noutros fóruns e noutros momentos políticos, fê-lo com certeza. Mas no Pontal é suposto o seu discurso conter os alicerces de um futuro programa de governo. Só assim começará a ser credível como candidato a primeiro-ministro.

É essa a simbologia que está agregada ao Pontal. Cavaco Silva fez dela um marco político que se transformou, formalmente, numa ferramenta de rentrée política.

Passos Coelho usou-a para um arranque para a conquista da vitória nas eleições legislativas de 2011. Em 2015 o Pontal foi o palco da continuidade da afirmação política da Aliança Democrática, com as presenças de Passos Coelho e Paulo Portas.

Foi a antecâmara de uma vitória nas legislativas que foi contrariada pela aritmética parlamentar à esquerda que fez nascer a geringonça.

Montenegro devia, pois, olhar para o enorme significado político da Festa do Pontal. Dizer que o “país não tem futuro com Costa”, é uma verdade do senhor de La Palisse.

O que não se sabe ainda é se o país terá futuro com Montenegro. Que, ao falar apenas da questão fiscal, deixou o copo meio vazio na Festa do Pontal.

Jornalista

DN
António Capinha
18 Agosto 2023 — 00:17


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



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One thought on “338: Pontal. O copo meio vazio

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    – Felizmente muitas pessoas já se aperceberam que todos estes políticos, tenham eles a cor e a ideologia que tiverem, apenas pretendem tacho e poder.

    As pessoas apenas contam em época de eleições em que todos eles vêm para as ruas, sorridentes, dando beijinhos, abraços, tirando selfies e vomitando aldrabices sobre aldrabices.

    E depois ficam admirados que a abstenção vá subindo de eleição para eleição! Os portugueses não são estúpidos!

    A tacanhez deles é que não consegue vislumbrar a realidade!

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