– “… O ministro entrou, pois, numa lógica que parece estar a marcar o actual governo de culpar a comunicação social pelos problemas que estão por resolver. Pressionar o mensageiro é uma velha técnica para afastar o foco de atenção do verdadeiro conteúdo dos problemas que marcam o quotidiano da sociedade portuguesa.”
Não me enquadro, de jeito algum, na defesa desta governança ou de qualquer dos seus componentes a quem me saca o pouco que tenho para sobrevivência, contudo, é bom clarificar que muito jornalixo existente em pasquins dessa tal de comunicação social, ataca a governança ou os seus componentes, com contornos e interesses político partidários e aí sim, existe uma total falta de independência jornalística que a coloca no patamar do jornalixo ou telelixo nacionais. É por isso, que alguns colunistas deste jornal – que já foi de referência – não têm cabimento neste Blogue.
🇵🇹 OPINIÃO
José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna, é o melhor ministro deste governo. A sua prestação institucional tem sido marcada pela discrição, rigor, assertividade. Tem exercido a sua função, afastado do foco mediático. Antecipa os problemas, prepara soluções.
Fala, acertadamente, e diz apenas o essencial sobre os assuntos. Até ao momento nunca tínhamos assistido a qualquer deriva a um comportamento institucional marcado pelo rigor e pelo exercício equilibrado da sua autoridade.
Uma coisa rara neste governo!
Mas no melhor pano cai a nódoa. Recentemente, a propósito do spam cartoon de Cristina Sampaio,
Carreira de Tiro, editado pela RTP 2, que mostra um polícia a fazer tiro ao alvo, alvo esse que, quando escurece, recebe mais tiros do que os alvos mais claros, suscitou uma enorme polémica.
O cartoon originou protestos da Direcção Nacional da PSP, do Observatório de Segurança Interna, e do Sindicato Nacional da Carreira de Chefes da Polícia de Segurança Pública (SNCC).
Estas entidades não se ficaram, aliás, por simples protestos. Esta última organização sindical apresentou mesmo uma queixa-crime no Ministério Público.
E, como se não chegasse, o ministro José Luís Carneiro telefonou à administração da RTP a “manifestar desagrado” sobre o conteúdo do cartoon.
Com esta atitude, José Luís Carneiro cometeu um enorme erro político que mancha o seu percurso institucional. Um ministro não telefona à administração de uma empresa de comunicação, seja pública, seja privada, a queixar-se de um conteúdo informativo.
Nunca o deveria ter feito, nem existia qualquer necessidade de dar conhecimento público dessa sua atitude. Se a PSP tem um problema de racismo no seu interior que o resolva.
Que seja mais rigorosa em relação aos agentes que possam ter atitudes racistas no exercício da suas funções. Que previna. Que forme. Que seja pedagógica.
Que seja implacável com os agentes que possam ter atitudes racistas. De nada vale o coro de lamentações que se levantou em relação a um simples cartoon, cujo conteúdo, aliás, se refere à situação francesa da morte, em Nanterre, do jovem Nahel, de ascendência argelina.
Esteve bem Nicolau Santos, presidente do Conselho de Administração da RTP, na “recusa da RTP em retratar-se” face à PSP por causa do cartoon. Marcou, de forma clara, a independência que a estação pública de televisão deve ter, relativamente, a pressões provenientes de gabinetes ministeriais. E preveniu situações futuras…
A liberdade de expressão consagrada na Constituição não se coaduna com atitudes de pressão relativas a um cartoon que não pretendia retratar qualquer situação portuguesa e cujo conteúdo não ofende em nada a PSP.
José Luís Carneiro interrompeu, assim, o seu percurso institucional que tinha sido, até ao momento, imaculado.
Se achava que devia pronunciar-se sobre o assunto, um simples comunicado do seu gabinete com a sua posição política era suficiente.
O ministro entrou, pois, numa lógica que parece estar a marcar o actual governo de culpar a comunicação social pelos problemas que estão por resolver.
Pressionar o mensageiro é uma velha técnica para afastar o foco de atenção do verdadeiro conteúdo dos problemas que marcam o quotidiano da sociedade portuguesa.
José Luís Carneiro foi imprudente num assunto que deve receber da parte das Forças de Segurança acções concretas e não protestos e queixas-crime contra a publicação de um simples spam cartoon. Que, afinal, acabou por atingir o ministro!
Jornalista
DN
António Capinha
14 Julho 2023 — 01:20
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published in: 2 meses ago
– “… O ministro entrou, pois, numa lógica que parece estar a marcar o actual governo de culpar a comunicação social pelos problemas que estão por resolver. Pressionar o mensageiro é uma velha técnica para afastar o foco de atenção do verdadeiro conteúdo dos problemas que marcam o quotidiano da sociedade portuguesa.”
Não me enquadro, de jeito algum, na defesa desta governança ou de qualquer dos seus componentes a quem me saca o pouco que tenho para sobrevivência, contudo, é bom clarificar que muito jornalixo existente em pasquins dessa tal de comunicação social, ataca a governança ou os seus componentes, com contornos e interesses político partidários e aí sim, existe uma total falta de independência jornalística que a coloca no patamar do jornalixo ou telelixo nacionais.
É por isso, que alguns colunistas deste jornal – que já foi de referência – não têm cabimento neste Blogue.