🇵🇹 OPINIÃO
Não é fácil imaginar um contexto mais disruptivo para o mundo do trabalho do que o início desta década. Começou com uma pandemia global, logo nos primeiros meses de 2020, que nos forçou ao distanciamento social como forma de protecção.
Essas restrições tornariam a pandemia num acelerador da digitalização. O teletrabalho, até então desconsiderado como alternativa fiável, passou a solução fundamental para assegurar a funcionalidade de vários sectores, mantendo-se até aos dias de hoje (maioritariamente em formato híbrido).
Muitas empresas apostaram em especializar-se no comércio e serviços online. Outras aproveitaram para investir na sua eficiência, introduzindo ciência de dados na gestão quotidiana.
A emergência de Saúde Pública terminou, mas a tendência continua bem viva. No relatório O futuro dos empregos do Fórum Económico Mundial, onde participaram mais de 800 organizações, a expectativa é que a adopção de novas tecnologias digitais se torne o factor mais relevante na evolução do funcionamento das empresas.
Tudo indica que a próxima vaga (a Inteligência Artificial) trará debates exigentes sobre o seu impacto na sociedade, desde o ensino ao trabalho.
Mas o desafio não se fica por aí. Em simultâneo, assistimos à brutal reconfiguração das cadeias de produção globais. É uma consequência directa da guerra na Ucrânia, visto que as sanções aplicadas à Rússia forçam a procura de novos fornecedores energéticos e de outros produtos.
Neste novo contexto geopolítico internacional, duas tendências concorrem e complementam-se: a relocalização do parque industrial para territórios próximos e aliados (friendshoring) e o regresso da política de desenvolvimento industrial, adormecida desde o advento da globalização.
Uma e outra coincidem com a transição verde, através de investimentos que alterem o modelo de produção intensivo em emissões poluentes, e reforçando a aposta também na produção de energia limpa.
É uma oportunidade, que não pode ser desperdiçada, para cumprir o imprescindível combate às alterações climáticas.
Perante tantas dinâmicas altamente disruptivas, não há como esperar que o mundo do trabalho se mantenha estático.
Mas também nada obriga a que as mudanças sejam negativas. Em qualquer uma destas dimensões, o bem-estar dos trabalhadores e a qualidade de vida têm de ser prioridade.
Em vez de competir com as máquinas, estas devem ser geradoras de produtividade (cujos retornos têm de ser redistribuídos) que libertem o ser humano do trabalho mais exaustivo, permitindo outras ocupações para a sua disponibilidade física, capacidades cognitivas e criatividade. Ou seja, que máquinas e algoritmos sirvam os humanos e não o oposto.
E também não teremos de nos resignar à obsolescência: assim como a oferta formativa no pós-secundário terá de ser compatibilizada às necessidades do mercado de trabalho, também a reconversão profissional será essencial para a adaptação aos novos empregos. Ou seja, que os empregos possam evoluir, mas o pleno emprego continue a ser viável.
O objectivo, tal como nos diz a Organização Internacional do Trabalho, não é lutar contra as mudanças. É guiá-las a bom porto, para que funcionem para todos nós.
15 Valores
Projecto-piloto, semana de 4 dias
O debate tem ganhado tracção em todo o mundo. A semana de trabalho de quatro dias, que Portugal se encontra a testar, pode ser um dos benefícios das novas tecnologias, que permitem novas formas de organização do trabalho sem perdas de produtividade global e com maior satisfação dos trabalhadores.
Eurodeputado
D.N.
Pedro Marques
08 Junho 2023 — 00:17
Web-designer, Investigador
e Criador de Conteúdos Digitais
published in: 4 meses ago