149: BRICS vs Ocidente

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🇵🇹 OPINIÃO

Nova reunião dos BRICS, desta vez dos cinco ministros dos Negócios Estrangeiros, na Cidade do Cabo, e de novo a defesa por todos de um mundo multipolar, num claro desafio àquilo que os governantes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul consideram ser a ambição do Ocidente, e em especial os Estados Unidos, de continuar a ditar as regras.

Se ouvirmos as declarações dos vários ministros presentes na cidade sul-africana, há sempre presente um ressentimento contra as potências ocidentais (não é por acaso que alguns vêem os BRICS como um contraponto ao G7), mesmo que disfarçado de declarações a favor de uma nova ordem internacional que seja mais favorável aos países em desenvolvimento.

No seu conjunto, os cinco países dos BRICS representam 3,3 mil milhões de pessoas, cerca de 40% da população mundial. Já o G7 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) representa 700 milhões de pessoas, um pouco menos de um décimo da humanidade.

Mas se a comparação for em termos de PIB, a supremacia é claramente do G7, que conta com a 1.ª, 3.ª, 4.ª, 6.ª, 7.ª, 8.ª e 9.ª maiores economias.

Para se perceber o ressentimento que marca o discurso dos BRICS, e com bases históricas, nada como ver algumas entrevistas de Subrahmanyam Jaishankar, o chefe da diplomacia indiana.

Num inglês perfeito e com argumentos perfeitamente estudados, Jaishankar tem-se multiplicado em explicar, por exemplo, as razões de o seu país não condenar a Rússia nas votações na ONU e continuar a comprar o petróleo russo.

Descreve sempre o que considera a hipocrisia ocidental e em última instância explica que para um país de 1400 milhões de pessoas como a Índia, pobre apesar de ser já a 5.ª economia mundial, o racional é comprar petróleo a quem vende mais barato.

Apesar de estarem longe de ser um bloco coerente do ponto de vista político (muito menos certamente do que o G7, todos democráticos e com elevado índice de desenvolvimento) os BRICS tentam fazer da união força, mas são evidentes as fricções entre os seus membros, em especial entre a China e a Índia e também a dificuldade do Brasil em estar 100% com os outros membros na questão da Rússia, pois tanto com Jair Bolsonaro na presidência, como com Lula da Silva agora, tem votado na ONU a condenar a invasão da Ucrânia, mesmo que não aplique sanções.

Também a África do Sul vai ser testada em Agosto quando acolher a próxima cimeira dos BRICS, pois por integrar o Tribunal Internacional de Justiça terá de prender Vladimir Putin se o presidente russo entrar no país.

Há manobras legais para evitar ter de cumprir o mandato de captura internacional, relacionado com a guerra na Ucrânia, mas é uma situação terrível para a diplomacia sul-africana, por um lado agradecida ao Kremlin por ter apoiado a luta contra o Apartheid, por outro sem vontade de entrar em choque com o Ocidente.

Sergei Lavrov, o MNE russo, bem pode dizer na Cidade do Cabo que há uma dezena de candidatos a juntar-se aos BRICS, que de início eram só uma sigla criada pelo Goldman Sachs identificando quatro potências emergentes (o S de África do Sul veio depois já da institucionalização), mas tirando ser uma voz de protesto e desafio, o grupo continua pouco capaz de agir conjuntamente de modo a mudar mesmo as regras ditadas pelo Ocidente.

Veremos o que resulta da cimeira de Joanesburgo.

D.N.
Leonídio Paulo Ferreira
05 Junho 2023 — 00:02


Web-designer, Investigador
e Criador de Conteúdos Digitais


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