🇵🇹 OPINIÃO
Os dias 23 e 24 viram uma passagem quase meteórica do Presidente (PR) da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, em Lisboa.
Digo-o desta forma, porque não vi grandes ecos nos media portugueses, a propósito da visita daquele que nos continua a permitir tomar banho de água quente, já que se trata do maior fornecedor de gás natural a Portugal. A Presidência da República bem o sabe, tal a pompa protocolar com que recebeu o PR Tebboune.
Recebido na Praça do Império com Honras Militares, execução dos dois Hinos Nacionais, salva de 21 tiros, revista e desfile da Guarda de Honra.
Marcelo não falha e Tebboune também não nos tem falhado, apesar da crescente tensão entre Argel e Madrid a propósito da disputa sahraoui, cujo Governo de Pedro Sanchez, decidiu no ano passado ensaiar uma definitiva aproximação a Rabat, afastando-se assim das intenções de Argel face aos destinos das Províncias do Sul marroquino.
Neste desalinhamento Argélia-Espanha, a “bomba atómica” argelina foi utilizada com Marrocos, através do corte total de fornecimento de gás ao Parque Industrial de Tânger, corte que também se acenou a Espanha.
É aqui que Portugal entra, já que depende dos gasodutos espanhóis para o gás argelino chegar ao eixo Portalegre/Figueira-da-Foz, que o distribui pelo país e nos permite todos os confortos domésticos, mais um não “desacelaramento” industrial e comercial.
É esta a preocupação do Presidente da Argélia, fazer frente a Espanha com um crescente desinvestimento na Península Ibérica, face a um crescente investimento na Península Itálica, sem prejudicar Portugal.
Fazê-lo, seria alienar Portugal de uma importante relação que não passa apenas pela dependência deste hidrocarboneto. A Argélia não depende de Portugal na área da construção civil, mas confia muito nos arquitectos e engenheiros portugueses.
Não foi por acaso que foi uma empresa portuguesa a construir a infra-estrutura que actualmente serve de cama ao Metropolitano de Argel. No Magrebe, os portugueses têm fama de serem os melhores construtores de pontes na Europa.
Falo de arquitectura e construção, mas Portugal também sabe e poderá construir outras pontes entre Marrocos e Argélia, entre Espanha e Argélia.
Como? Ainda vamos a tempo de sugerir a inclusão da Argélia na Candidatura tripartida Portugal/Espanha/Marrocos ao Campeonato do Mundo 2030.
Provar-se da impossibilidade desta iniciativa, até por decisão da própria FIFA, apenas porque sim, não a torna um “delírio raulesco”, antes uma iniciativa construtiva que “bem esgalhada” deixará a marca-de-água das boas intenções, que num futuro próximo poderá ter resultados práticos.
Chegará o dia em que marroquinos e argelinos terão que se sentar frente-a-frente e resolver o assunto, que estará por um destes dias a chegar o pós-guerra, período que obriga a novas perspectivas, já que a guerra também se faz para que nada fique como dantes! É isto o reajustamento geopolítico que se fala nos telejornais.
Esta visita foi a segunda visita presidencial a uma capital europeia, desde que o PR Tebboune tomou posse em Dezembro de 2019. A primeira foi precisamente a Roma e não a Madrid.
A Argélia está preocupada em não alienar Portugal e nós não “esgalhámos” mediaticamente esta visita, desde as boas intenções argelinas, até aos ovos que os seus opositores lhes mandaram em plena baixa lisboeta, logo após o terem apupado à chegada à Câmara Municipal de Lisboa.
Em duas semanas Lisboa assistiu às visitas do PM marroquino Aziz Akhannouch (12.05) e agora do PR argelino, prova da importância deste crescente “pivot geopolítico” Portugal/Espanha/Marrocos. Porque não acrescentar-lhe a Argélia e fazer deste triângulo um quadrado ainda mais promissor?
Para quem ainda não percebeu, esta guerra abriu-nos a janela que nos pode proporcionar um flic-flac que nos transportará da cauda, para a cabeça da Europa. Tudo dependerá dos políticos, que sempre fomos bons a Ginástica!
Politólogo/Arabista
www.maghreb-machrek.pt (em reparação)
D.N.
Raúl M. Braga Pires
26 Maio 2023 — 07:48
Web-designer, Investigador
e Criador de Conteúdos Digitais
published in: 4 meses ago