🇵🇹 OPINIÃO
No Dia Mundial Sem Tabaco, é importante lembrar que fumar é a principal causa do cancro do pulmão, mas que os não fumadores também têm de estar atentos à ameaça. A prevenção é fundamental.
Hoje é o Dia Mundial Sem Tabaco e esta palavra “tabaco” traz-nos imediatamente à mente uma ameaça, o cancro do pulmão.
Especialmente para quem, como eu, faz da vida profissional um apostolado em volta do diagnóstico e do tratamento deste tumor, que ainda rouba todos os anos a vida de tantas pessoas das mais diversas idades.
Sim, o cancro do pulmão continua a ser a principal causa de morte por cancro em todo o mundo, de acordo com as últimas referências de 2020 – e o tabaco é o seu principal responsável.
Porém, neste dia sem tabaco, pensando também nos que não fumam, não podemos nem queremos deixar de alertar a população não fumadora de que não podem ficar indiferentes perante o perigo do cancro do pulmão.
Atenção, não há dúvidas de que a principal causa é o tabaco, mas o cancro do pulmão também surge num grupo muito importante de pessoas que nunca fumaram ou em pequenos fumadores – e existem certamente outras razões para isto acontecer.
Não há dúvida de que o rastreio é a estratégia mais eficiente para o controlo do cancro para além da prevenção.
O cancro de pulmão é o segundo mais comum e o mais mortal em todo o mundo. Vários ensaios clínicos foram realizados desde a década de 70 para determinar a utilidade das radiografias de tórax, com ou sem citologia de expectoração como uma ferramenta para o diagnóstico do cancro de pulmão.
Infelizmente, todos os ensaios clínicos falharam, mostrando que estes meios eram inúteis. Graças ao desenvolvimento da tomografia computorizada de baixa dose de radiação na década de 90, dois grandes ensaios clínicos randomizados – National Lung Screening Trial [NLST] e Nederlands-Leuvens Longkanker Screenings Onderzoek [NELSON] – foram iniciados no início dos anos 2000.
Foi então finalmente comprovado que a tomografia computorizada de baixa dose pode reduzir substancialmente a mortalidade por cancro do pulmão em até 20%, principalmente porque o rastreio aumentou os diagnósticos da doença em estádios precoces de 24% para cerca de 60%.
Os dados da vida real confirmam estas evidências, não existindo dúvidas que o grande paradigma da melhoria da sobrevida se deve à detecção precoce dos doentes com cancro do pulmão com aumento das terapêuticas cirúrgicas que ainda são até aos dias de hoje as potencialmente curativas
Embora o tabaco seja o agente mais importante e conhecido no cancro do pulmão, muitos tumores do pulmão ocorrem em doentes que não têm histórico de tabagismo – e esta incidência em não fumadores está a aumentar.
O verdadeiro impacto global dos não fumadores também não é claro porque o registo dos hábitos tabágicos é deficitário na maioria das bases de dados de registo de cancro do pulmão.
Conclui-se, no entanto, que o cancro no pulmão de não fumadores seria a sétima principal causa de mortalidade por cancro em todo o mundo – e que, pelo menos, um terço dos doentes com cancro do pulmão não tinha histórico de tabagismo.
Se o rastreio do cancro de pulmão se concentrar apenas em grandes fumadores, existirão mais de 30% de doentes com cancro do pulmão que não serão rastreados.
Aumentar o rastreio para cobrir os que nunca fumaram parece-nos importante para melhorar o controlo do cancro do pulmão.
O cancro do pulmão pode ser causado por outros factores de risco além de fumar cigarros, cachimbos ou charutos. De um modo geral, tabagismo passivo, vapor de óleo de cozinha, uso de carvão em ambientes fechados, terapêuticas de reposição hormonal, exposição a amianto ou metais pesados, história familiar e poluição do ar têm sido associados à chamada “carcinogénese pulmonar” em não fumadores.
Os cancros de pulmão em fumadores e não fumadores parecem ser duas doenças diferentes. A patogénese molecular, a susceptibilidade genética e os factores de risco ambientais são diferentes – e os programas de controlo podem ser também diferentes.
Pessoas com cancro de pulmão que nunca fumaram podem ter uma mutação no DNA, por exemplo, uma mutação no gene do receptor do factor de crescimento epidérmico (EGFR) ou em outros genes que lhes permitem, por essas mutações, que possam ser tratados com terapêutica personalizada.
Nos Estados Unidos, cerca de 10% a 20% dos cancros de pulmão, ou 20.000 a 40.000 cancros de pulmão a cada ano, ocorrem em pessoas que nunca fumaram ou fumaram menos de 100 cigarros na vida.
Os investigadores estimam que o fumo passivo contribui para cerca de 7.300 e o radão (um gás radioactivo de origem natural) para cerca de 2.900 desses cancros do pulmão.
O rastreio do cancro de pulmão em pessoas que nunca fumaram ainda não é recomendado com base no modelo de previsão de risco baseado nos dados da população ocidental, provavelmente porque os possíveis danos do rastreio superam o possível benefício da descoberta precoce do cancro de pulmão nesse grupo.
Em curso já há estudos de rastreio de cancro do pulmão que incluem fumadores e não fumadores para identificar o risco relativo (RR) de cancro do pulmão diagnosticado em não fumadores em comparação com fumadores.
Em suma, o risco é muito maior para os fumadores, mas os não fumadores também não podem ser esquecidos.
Pneumologista | Coordenadora Norte da CUF Oncologia e Coordenadora da Unidade de Cancro do Pulmão do Hospital CUF Porto
D.N.
Bárbara Parente
31 Maio 2023 — 01:32
Web-designer, Investigador
e Criador de Conteúdos Digitais
published in: 4 meses ago