UMA QUESTÃO DE IDIOSSINCRASIA
Idiossincrásico é o termo apropriado a quem, no seu conforto socioeconómico, desdenha a ajuda a desempregados, nomeadamente aos de longa duração e que já não recebem qualquer ajuda social por ter terminado o prazo dos subsídios de desemprego e subsequentes.
Infelizmente ontem tive a prova desta afirmação e da idiossincrasia que grassa em tipos de gente, seres humanos que embora confortáveis na sua zona familiar, tecem reparos inadmissíveis numa sociedade humanitária e de solidariedade.
Numa breve troca de mensagens no Facebook, referi o artigo que publiquei no meu Blogue Cidadania, o facto do sr. António Costa, primeiro ministro de Portugal e da sua governança, ter decretado passe social gratuito nos transportes públicos para estudantes.
Ora, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, sr. Carlos Moedas, já tinha estabelecido essa gratuitidade para idosos com >65 anos e estudantes.
Reclamei a todos os grupos parlamentares com assento na Assembleia da República e respectivos partidos e ao sr. Carlos Moedas, porque razão os desempregados não tinham sido incluídos neste pacote.
Dos partidos não obtive resposta, da C.M.L., mais tarde, informaram que a coisa estava em “estudo”.
A notícia acima referida, levou-me a comentar no meu registo do FB o seguinte:
“– Porra, pá! E para quando a gratuitidade dos passes para DESEMPREGADOS DE LONGA DURAÇÃO, já sem subsídios de desemprego, subsequentes ou de qualquer outro apoio social, estando à mercê dos familiares (quem os tiver)?
PURA EXCLUSÃO SOCIAL que não beneficia quem TRABALHOU E DESCONTOU IMPOSTOS PARA O ESTADO DURANTE MAIS DE TRINTA ANOS!
O sr. Feliz da imagem (António Costa), está todo Contente por não ter de pagar passe social, por ter boas mordomias e não ter de viver no fio da navalha! Falácias atrás de falácias são os galhardetes desta governança e também do sr. Moedas da C.M.L. que apenas atribuiu passes gratuitos aos velhos e estudantes!”
O diálogo obtido entre mim e um conhecido de longa data:
“Francisco Gomes Mas os desempregados precisam do passe para k? Não têm trabalho. 😢”
Francisco Gomes:
…estás redondamente enganado! A minha filha e todos os desempregados, precisam do passe para se deslocarem à procura de trabalho! Responderem a anúncios! Vão a pé?
Conhecido de longa data:
“Francisco Gomes Pensava que nessa situação era só inscrever-se no Centro de emprego e mandar curriculum. Mas está bem, depois têm de ir às entrevistas. Ok!
É que os transportes públicos já andam a abarrotar agora imagina os desempregados todos a passearem nas horas de ponta.
E são custos que todos nós suportamos com os nossos impostos, que já não são poucos.
São pontos de vista, aceito o teu.
Compreendo o teu desespero.
Abraço”
Francisco Gomes:
Ainda bem que nunca estiveste desempregado! Assim, o dizeres que os desempregados andam a “passear” nas horas de ponta é uma blasfémia! A minha filha está desempregada há mais de SETE ANOS, não tem qualquer tipo de apoio social, encontra-se sob a minha protecção financeira e no geral. Ela vai a caminho dos 58 anos e, na óptica dos “empregadores”, já está “velha” para trabalhar! E sim, continua inscrita no IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) que até à data não se “mexeu” para a colocar nem que fosse num trabalho temporário! Quando estamos numa situação confortável, podem dizer-se este tipo de barbaridades.
Conhecido de longa data:
“Francisco Gomes Não percebeste o meu ponto de vista.
Não estou a ver que seja uma solução para os cerca de 300 mil desempregados.
Desejo-lhe boa sorte.”
— fim do diálogo —
Pois… o problema é não percebermos os “pontos de vista” de cada um. Um desempregado de longa duração, sem qualquer tipo de apoio social, não ter direito à gratuitidade do passe social nos transportes públicos, é como um confinado em pandemia (neste caso social) onde terá forçosamente de ficar em casa, sem poder deslocar-se para desenvolver a sua vida normal – Centro de Saúde, Hospital, exames e análises clínicas, compras para a casa, farmácia, etc. -, dado que a minha filha é diabética tipo 1 e tem exames e análises a efectuar no exterior, com regularidade.
Pela óptica do “ponto de vista” de quem afirmou que “… É que os transportes públicos já andam a abarrotar agora imagina os desempregados todos a passearem nas horas de ponta.”
Eu usufruo do passe social gratuito por obra de ser ex-Combatente da Guerra do Ultramar e não ando a “passear” nas horas de ponta contribuindo para o “abarrotamento” dos transportes públicos!
É triste, mas cada um tem direito às suas opiniões e como democrata que sou, ateu partidário e religioso, aceito essas opiniões mas também tenho o pleno direito ao contraditório quando a situação é plenamente justificável.
Se não fosse eu a pagar o passe social à minha filha, como tudo o resto que ela precisa, como é que ela sobreviveria? Será que a desumanidade ganhou raízes em gente que até nem eram assim no passado?
17.09.2023
Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator
published in: 5 dias ago