Corrupção na Defesa. 73 acusados na operação “Tempestade Perfeita”

 

– Ei malta! Estamos entregues à bicharada!

🇵🇹 PORTUGAL // 🤑 CORRUPÇÃO // 🪖 DEFESA NACIONAL

Corrupção activa e passiva, peculato e branqueamento de capitais, são os principais crimes de que são acusados sete funcionários do ministério da Defesa, entre os quais três altos quadros, 36 empresários e familiares, bem como 30 empresas. Os principais crimes investigados remetem ao tempo de João Gomes Cravinho como ministro da Defesa.

O Ministério da Defesa Nacional, em Lisboa, foi um dos alvos das buscas do Ministério Público e da Polícia Judiciária na passada terça-feira.
© Tiago Lourenço / Global Imagens

O Ministério Público deduziu já a acusação do inquérito que investigou suspeitas de corrupção da Defesa, envolvendo funcionários do Ministério e empresas. O despacho foi concluído no passado dia 10 e enviado aos arguidos.

Entre os 73 acusados do presente inquérito, que teve a Unidade Nacional de Combate à Corrupção a executar a investigação, estão Alberto Coelho, o ex-director-geral da ainda mais poderosa estrutura de aquisições e gestão de serviços do MDN, a Direcção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (resultante da fusão da Direcção -Geral de Pessoal e Recrutamento Militar com a Direcção-Geral de Armamento e Infra-estruturas de Defesa); Paulo Branco, director de serviços da gestão financeira; e Francisco Marques, director de serviços de infra-estruturas e património. Ambos foram escolhidos por Alberto Coelho.

Os principais crimes que consubstanciam a acusação são a corrupção activa e passiva, peculato, branqueamento e falsificação de documentos.

Além dos três dirigentes já referidos, estão ainda acusados outros quatro funcionários do MDN, 36 empresários e familiares, bem como 30 empresas.

Alberto Coelho está acusado de três crimes de corrupção passiva, um do branqueamento, dois de peculato e um de falsificação de documento. Terá recebido, pelo menos, um Audi, no valor de 39.500; mobiliário de jardim no valor de 1.177 euros, obras de remodelação da casa, no valor de 13 mil euros.; duas televisões e uma serigrafia.

Paulo Branco está acusado de cinco crimes de corrupção passiva, dois de branqueamento e quatro de falsificação de documento. Terá sido corrompido com obras de remodelação numa casa na Comporta, no valor de 92 mil euros; electrodomésticos no valor de 3.600 euros; numerário em cerca de 150 mil euros.

Francisco Marques está acusado de quatro crimes de corrupção passiva, dois de branqueamento e dois de falsificação de documento. Terá recebido pelo favorecimento às empresas 28 500 euros para comprar Audi; obras de remodelação na sua casa no valor de 12 700 euros; 170 mil euros em numerário.

Jantares, estadias em hotéis e viagens, vinhos Pêra Manca, equipamento informático estão também na lista de valores que o MP dá como provado terem sido usados para corromper os dirigentes do MDN.

Para todos os seis funcionários do MDN que ainda estão no activo (Coelho está reformado) o MP requereu pena acessória de proibição do exercício de função.

Condena ainda Alberto Coelho a pagar ao Estado cerca de 86 mil euros, o que estima ter recebido em vantagens; Paulo Branco deverá pagar 415 mil euros; Francisco Marques, cerca de 270 mil; os empresários 634 mil, correspondente às valores de que se apropriaram ilegitimamente.

Mandato de Cravinho com a maioria dos casos

O intervalo temporal da investigação incidiu especialmente no período entre 2018 e 2021 – a maior parte, em 2020, no período em que João Gomes Cravinho foi Ministro da Defesa.

A investigação apurou que só neste ano foram feitas cerca de 30 das quase cinco dezenas de adjudicações suspeitas entre 2019 e 2021, no valor de mais de cinco milhões de euros.

Com muitas escutas, vigilâncias e um escrutínio rigoroso às contas bancárias dos envolvidos, o MP e a UNCC conseguiram estabelecer ligações, que a investigação considerou criminosas, entre os altos quadros do MDN e as empresas.

Obras não executadas, material pago e não entregue, obras executadas por empresas diferentes das contratadas, propostas fictícias, demolições pagas que não aconteceram, contratos não escritos e já os habituais fraccionamentos de custos para fugir aos concursos, estão entre a lista de casos descritos na acusação.

Como o DN já noticiou, foi a empreitada da requalificação do Hospital Militar de Belém (HMB), e derrapagem de 750 mil para 3,2 milhões de euros, a fazer avançar mais a investigação, com Alberto Coelho à cabeça e por cujas comprovadas irregularidades já foi condenado pelo Tribunal de Contas (TdC) a pagar uma multa de 15 300 euros.

Alberto Coelho, era um dos mais antigos quadros do MDN, foi nomeado para as funções na Director-geral de Recursos da Defesa Nacional (DGRDN) durante o mandato do ministro Aguiar-Branco (Governo PSD/CDS-PP), em Janeiro de 2015, cargo que ocupou até Fevereiro de 2021, quando já estava sob suspeita.

Este antigo director-geral é um conhecido militante do CDS-PP, presidiu ao Conselho de Jurisdição do CDS, cargo que ocupou durante seis anos (até 2021) e fez parte.

Em 1980, servira no Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) e, em 1992, fora transferido para a Direcção-Geral de Pessoal e Infra-estruturas do Ministério da Defesa.

Sob pressão do parlamento por causa da controversa derrapagem, o ex-ministro da Defesa João Gomes Cravinho não deixou de defender o seu director-geral, destacando que “prestou enormes contributos ao Ministério, que lhe estará sempre grato”, classificando-o como “pessoa extremamente qualificada e capaz”.

Recorde-se que nessa altura uma auditoria interna do MDN atribuía a Alberto Coelho responsabilidade pela volumosa derrapagem.

Como prova de confiança, Gomes Cravinho validou a nomeação de Alberto Coelho para Presidente do Conselho de Administração da ETI (EMPORDEF – Tecnologias de Informação, S.A), uma empresa do universo da holding IdD Portugal Defence.

Em actualização

DN
Valentina Marcelino
16 Agosto 2023 — 17:56


Ex-Combatente da Guerra do Ultramar, Web-designer,
Investigator, Astronomer and Digital Content Creator



published in: 1 mês ago

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101: Dono da Altice avisado das buscas pela TVI. Amigo ofereceu emprego a juiz no interrogatório

 

– … e assim anda a “justiça” na tugulândia…

🇵🇹 ALTICE // INTERROGATÓRIOS // JUSTIÇA

Foi um interrogatório caricato aquele que o super-juiz Carlos Alexandre fez aos dois principais suspeitos do processo Altice, Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes. O dono da Altice revelou que a TVI o avisou das buscas e o seu braço-direito chegou a oferecer um emprego ao magistrado.

Mário Cruz / Lusa
Armando Pereira, fundador da Altice

O co-fundador da Altice, Armando Pereira, considerado o homem mais rico de Portugal, continua detido, em prisão preventiva, no âmbito da “Operação Picoas” que investiga suspeitas de burla que terão lesado a Altice em 250 milhões de euros, bem como o Estado português em 100 milhões de euros por impostos não pagos.

O seu braço-direito e amigo, Hernâni Vaz Antunes, também continua detido depois de ter sido ouvido durante dois dias pelo juiz Carlos Alexandre no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC).

O empresário de Braga compareceu perante o juiz com um ar “abatido” e protagonizou um momento insólito, começando por notar que nada tem contra os juízes e que estes têm “ordenados miseráveis”, conforme o relato feito pelo Correio da Manhã (CM) que teve acesso ao processo.

“Posso oferecer-lhe emprego no privado”, disse, então, Hernâni Vaz Antunes a Carlos Alexandre, ainda segundo o mesmo jornal.

Se arranjasse a MEO na minha terra, em Mação, é que era importante. Isso sim é um problema”, respondeu o magistrado como cita o CM. O empresário disse logo que conseguia fazer isso “em poucos dias”, mas “desde que não ficasse preso”, de acordo com a publicação.

Antes disso, já o braço-direito do dono da Altice teria oferecido um emprego também à funcionária do tribunal que estava assistir o juiz.

Armando Pereira avisado das buscas pela TVI

O interrogatório aos arguidos fica ainda marcado por outro dado curioso. Armando Pereira contou a Carlos Alexandre que foi avisado da realização das buscas pela TVI, segundo revela o jornal Nascer do Sol.

Um dia antes da operação da Polícia Judiciária (PJ), o dono da Altice diz que foi contactado pela TVI para um comentário às buscas que iriam acontecer à sua moradia em Vieira do Minho, Braga.

Está aqui em causa uma possível violação do segredo de justiça.

Os investigadores da “Operação Picoas” acreditam que os arguidos já teriam informações do processo alguns dias antes, uma vez que, “a partir da sexta-feira anterior às buscas e ao início da detenção dos quatro suspeitos”, se “dedicaram a destruir documentação relacionada com os esquemas alegadamente ilícitos que terão posto em prática”.

Este jornal salienta que os arguidos terão colocado provas “em locais com os quais nenhum deles estava relacionado”, para evitar que fossem apanhadas pela PJ.

Armando Pereira e Vaz Antunes choraram em tribunal

O interrogatório a Vaz Antunes vai continuar no início da próxima semana. Enquanto isso, o empresário, bem como Armando Pereira, continuam detidos na cadeia anexa à PJ, em Lisboa, até conhecerem as medidas de coação.

Os dois arguidos chegaram a chorar em tribunal perante as acusações de que são alvo, garantindo a sua inocência, de acordo com o CM.

Vaz Antunes lamentou que estava a ser vítima de “inveja” devido à fortuna acumulada e terá demonstrado alguma fragilidade que pode estar relacionada com o facto de a filha também estar detida no âmbito do processo Altice.

De resto, o empresário de Braga só se entregou à justiça dois dias depois de a filha ter sido detida.

ZAP //
22 Julho, 2023



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published in: 2 meses ago

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