– Portugal, de país colonizador passa a país colonizado…
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🚌 TURISMO
Vice-presidente chinês chega este domingo a Lisboa para avaliar relação entre os dois países. Deve ficar satisfeito com o que vai ver, mas vai querer mais. Visita dura quatro dias.

Antes de Lisboa, Han Zheng (ao centro), vice-presidente da China, foi a Londres para a coroação do Rei Carlos III. 5 de maio de 2023.
© Jacob King / AFP
A China é, há vários anos, o quarto maior investidor directo estrangeiro em Portugal, detendo uma posição global avaliada em 11,2 mil milhões de euros no final de 2022, segundo o Banco de Portugal (BdP).
O gigante asiático, a segunda maior economia do mundo a seguir aos Estados Unidos, é ainda o quarto maior vendedor de mercadorias a Portugal, tendo ultrapassado os Países Baixos no ano passado neste ranking. E quer ganhar peso nas exportações.
O turismo vai ser uma das grandes alavancas num plano que tenciona chegar a “um milhão de turistas” chineses por ano dentro de quatro anos, segundo a Associação do Turismo Chinês em Portugal, que reuniu há menos de um mês com o secretário de Estado do Turismo, Nuno Fazenda.
O vice-presidente da República Popular da China, Han Zheng, chega hoje (domingo, 7 de maio) a Portugal para uma visita de quatro dias.
Na agenda estará, claro, o aprofundamento das relações económicas entre os dois países que, sendo de facto profundas, foram afectadas nos últimos anos por dificuldades maiores. A ideia é mais do que superar estes contratempos.
Primeiro, a pandemia, que travou as economias e a expansão do comércio. Depois, mais recentemente, em 2022, pela guerra da Rússia contra a Ucrânia.
A China é um aliado histórico da Rússia e tem sido muito criticada por não ter tido uma posição mais crítica em relação ao Kremlin. Mas até este ambiente parece estar a desanuviar um pouco.
Recentemente, a presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen, foi à China, encontrou-se com o Presidente do país, Xi Jinping. Com ela foi o Presidente francês Emmanuel Macron. E vieram de lá mais animados.
Bruxelas e Paris vieram mais animadas
Na sequência desse encontro, Von der Leyen avançou com o que parece ser um género de recomeço da relação bilateral com a Europa.
“Não queremos cortar os laços económicos, sociais, políticos e científicos. Temos muitos laços fortes e a China é um parceiro comercial vital – o nosso comércio representa cerca de 2,3 mil milhões de euros por dia”, disse a chefe do executivo europeu.
“A maior parte do nosso comércio de bens e serviços continua a ser mutuamente benéfico”, mas “é urgente reequilibrar as relações entre a União Europeia (UE) e a China com base em transparência, previsibilidade e reciprocidade” e “a nossa futura estratégia para a China deve ser a redução dos riscos económicos”.
Na China, Macron anunciou a abertura de uma nova fábrica de aviões da Airbus e vendeu helicópteros da marca. Terá sido um negócio de valor.
Han Zheng, o vice de Xi, até há pouco tempo responsável pelas relações com Hong Kong, vem a Portugal, que também é um país bastante amigo, e de longa data. A todos os níveis.
Nas últimas horas, pode ter contactado, ainda que informalmente, com o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa. Ambos estiveram em Londres para assistir à coroação do Rei Carlos III.
Cá, Han terá reuniões de alto nível com líderes das autoridades portuguesas (governo e Presidência da República) e com representantes empresariais. Os encontros estão concentrados na segunda e terça-feira.
Tendo em conta a parceria que existe, ainda há terreno para desbravar. A China quer investir mais em Portugal. Além das participações que já detém em muitas empresas de calibre, há outros sectores nos quais tenciona solidificar a sua presença.
Nos portos marítimos nacionais (Sines), por exemplo. São uma via prioritária para consolidar a chamada Nova Rota da Seda, uma estratégia de conexão económica e comercial global iniciada por Pequim em 2013.
Segundo o Ministério da Economia (GEE – Gabinete de Estratégia e Estudos), que analisou os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2022, Portugal comprou à China 5,5 mil milhões de euros em mercadorias, o equivalente a 5,1% do total das importações nacionais. Como referido, passou a Holanda e quer continua a subir no ranking.
Nas exportações, também em 2022, a posição da China ainda é relativamente baixa (é o 19º maior cliente), com 629 milhões de euros em compras às empresas portuguesas. Vale 0,8% do total. Mas há planos para subir no ranking.
Um dos vectores para o Portugal exportador é, como referido, o turismo. Actualmente, já com o levantamento decretado pela China, em Março, de restrições a viagens aos seus nacionais, o número de turistas chineses disparou.
Antes da pandemia, segundo o Turismo de Portugal, mais de 385 mil chineses visitaram Portugal em 2019. A estimativa diz que estes gastaram, no total, 224 milhões de euros no país, um crescimento de 20%, face a 2018.
Como referido, a ideia agora é duplicar o número de visitas anuais, para um milhão de turistas vindos da China, ou mais.
Empresas portuguesas de capital chinês
Seja através de entidades estatais, seja através da Fosun, um grupo privado, a China está presente em várias empresas estratégicas portuguesas, muitas delas cotadas em bolsa, como BCP, EDP, EDP Renováveis, REN, Mota-Engil, Martifer, Inapa, Reditus, entre outras.
“A Fosun, uma holding cotada em Hong Kong, integrada num dos mais reputados grupos privados de investimento chineses, é o accionista maioritário da Fidelidade”, diz a antiga seguradora da CGD.
A holding é ainda accionista de referência do Grupo Luz Saúde, que tem vários hospitais privados a operar em Portugal.
Os chineses ficaram também com o negócio do antigo BES Investimento, que hoje se chama Haitong Bank, na sequência da falência do BES.
São muitos nomes e muitos serão falados na visita oficial do vice chinês, quatro anos depois do chefe de Estado chinês Xi ter vindo a Portugal.
Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo
D.N.
Luís Reis Ribeiro
07 Maio 2023 — 07:01
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published in: 5 meses ago